5 anos e uma âncora nova

 
Na semana passada o Plano Real completou cinco anos do lançamento da nova moeda (sem contar a estréia da URV, em março/94), alcançando uma façanha até hoje difícil de acreditar: o controle da inflação crônica que há mais de uma geração assolava a economia do país.

“O Plano Real destruiu a causa maior da desigualdade no Brasil. Durante 30 anos de indexação, metade da população tinha correção monetária. A outra metade, corrosão inflacionária. No período, inflação acumulada de 1,1 quatrilhão por cento!”

Joelmir Beting, coluna de 30.06.99

Esse mérito, de ter posto sob controle uma inflação inimaginável, restaurando a estabilidade monetária na economia, apesar das turbulências enfrentadas, inclusive a temida desvalorização cambial de janeiro passado, ninguém pode tirar do presidente Fernando Henrique Cardoso. Por isso, já tem reservado o seu lugar na história (embora seja um lugar muito tímido, considerados os compromissos que assumiu nas duas campanhas). Depois de Fernando Henrique, só serão eleitos presidentes comprometidos com a estabilidade. O problema é que, passada a etapa da estabilização, as expectativas eram de que o presidente comandasse a retomada do desenvolvimento econômico e social seguro e acelerado, como requer uma nação que abriga um dos maiores e mais promissores mercados internos do mundo, travado por uma das piores distribuições de renda do planeta. Mas isso já é assunto para outros C&T
O início do sexto ano do Real, inaugura também uma nova âncora que vem substituir a âncora cambial, irremediavelmente danificada com a desvalorização de janeiro. Trata-se da âncora inflacionária ou metas de inflação (inflation targeting). Trata-se de um mecanismo de controle pelo qual o Banco Central anuncia metas anuais de inflação e passa a persegui-las tendo como instrumento principal a política de juros (se a inflação ameaçar ultrapassar a meta, os juros sobem). A meta estabelecida para 1999 foi 8%, com uma variação admissível de 2% para mais ou para menos (o intervalo será, portanto, de 6% a 10%). Para 2000 e 2001, as metas são, respectivamente, 6% e 4%. Nada mal para quem já chegou a ter quase esses valores ao dia…
O sistema foi usado pioneiramente pela Nova Zelândia a partir de 1990 e, hoje, é adotado também pelo Canadá, por Israel, pela Inglaterra, pela Suécia, pela Austrália e pela Espanha, de um modo geral, com êxito. Estamos, portando, pelo menos nesse particular, em boa companhia.
Um problema: a taxa de juros reais (descontada a inflação) praticada no Brasil (hoje na casa dos 21% nominais), apesar de todas as quedas promovidas recentemente pelo Banco Central, ainda é a maior do mundo. Isso mostra que apesar das boas intenções e das boas companhias, ainda temos um longo caminho a percorrer. Crescimento econômico seguro é incompatível com juros astronômicos e fraqueza de objetivos
 

Leia no caderno Oportunidades, todo domingo no Jornal do Commercio, a coluna Desafio 21. O que há de mais atual sobre Gestão & Competitividade está lá. Uma produção conjunta da Rede Gestão e da JCR & Calado, com criação gráfica da Aporte. As colunas já publicadas podem ser encontradas no site www.redegestao.com.br.

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