A rebimboca da parafuseta

“A informática é uma pedra amarrada no meu pescoço. Gasto muito dinheiro com ela, centenas de milhões de dólares, e não recebo nada de volta. Outro dia pedi a meu pessoal do departamento de informática que me passasse a rentabilidade de cada um dos meus produtos e eles simplesmente disseram que não tinham como calcular isso.”

Frase atribuída ao presidente da Shell por John J. Donavan, professor do MIT, consultor americano, especializado em tecnologia, presidente do Cambridge Technology Group, revista HSM Management, nº5, nov-dez/1997

Exageros à parte, não há executivo que não tenha sentido alguma vez sensação parecida à descrita na citação acima. Isto porque, infelizmente, na vida empresarial, a informática, por definição um meio a serviço da gestão, transforma-se com muita frequência num fim em si mesma, cria vida própria e exige um trabalho enorme para ser domada, muitas vezes sem sucesso. Tudo isto, a um custo altíssimo.

“Tenho lido estudos muito sérios que mostram que o custo de manutenção de um computador pessoal numa empresa varia de 40.000 a 60.000 dólares no decorrer de sua vida útil de cinco anos. Por que isso ocorre? Porque quando os computadores pessoais, os PCs, que a empresa comprou começam a se estabilizar e a pagar o investimento alguém lança um chip mais poderoso e logo a Microsoft lança uma versão que roda melhor no novo chip e a gastança recomeça. Esse processo não tem fim.”

Scott McNealy, presidente da Sun Microsystems, revista Veja, 10.06.98

Chama-se, hoje, jocosamente, essa dobradinha de indústria Wintel (software operacional Windows com chips Intel). Uma brincadeira que, em menos de uma década, criou a maior fortuna pessoal da história do capitalismo (Bill Gates com US$ 52 bilhões).

A esse constrangimento externo, alia-se um interno tão importante quanto ele: a postura nem sempre facilitadora dos profissionais encarregados de lidar com a informática. É muitíssimo comum, diante de um problema “no computador”, o usuário se sentir como aquele personagem que leva um carro com defeito para a oficina, o mecânico abre o capô, mexe para lá, mexe para cá, passa um bom tempo em silêncio e, depois, perguntado do que se trata, responde, com ar compenetrado, algo que soa assim: “é a rebimboca da parafuseta.” Depois deste diagnóstico incompreensível, segue-se uma série de incidentes que, não raro, terminam em aborrecimentos mútuos.

“… parte da (…) incompreensão cabe aos profissionais da informática, que não sabem transmitir seus conhecimentos à sociedade.”

José Roberto Whitaker Penteado Filho, vice-presidente da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo, revista Pequenas Empresas Grandes Negócios

A verdade é que criou-se, em relação à informática, uma expectativa falsa de precisão e previsibilidade. Uma imagem cada vez mais distante da vida real. Recentemente, o próprio Bill Gates foi vítima do seu veneno ao ter uma apresentação que fazia do Windows 98, na Condex Spring em Chicago, interrompida por uma pane, o que o fez confessar:

“Nós somos todos bastante dependentes de uma tecnologia que nem sempre funciona.”

Bill Gates, Folha de São Paulo 29.04.98

Para diminuir os dissabores, é preciso diminuir as expectativas. O que não é fácil, diga-se de passagem, diante da pressão de vendas de uma indústria colossal que movimenta bilhões de dólares por ano. Do ponto de vista da gestão empresarial, é preciso ter muita segurança do que se quer que a informática faça, sem cair na tentação de ir aos detalhes do como (um pântano do qual não se sai sem sequelas graves), mantendo sempre o pulso firme e sem complexo de inferioridade. Afinal, a informática tem que estar sempre a serviço da gestão e não o inverso, como desejariam os técnicos.

“A tecnologia, nunca devemos esquecer, é criada para nos servir. Então não pode ser melhor do que nós.”

Jean Paul Jacob, brasileiro, coordenador de pesquisa da IBM, revista IstoÉ, 17.06.98

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