A volta do crescimento

A divulgação recente de dois indicadores conjunturais não parece deixar dúvidas: a economia brasileira está no meio de um ciclo de crescimento. No primeiro semestre de 2000 a indústria operou o mais alto nível de produção dos últimos 25 anos (com crescimento acumulado em 12 meses, segundo o IBGE, de 4,2%). Nesse mesmo período do ano, o crescimento total do PIB foi de 3,84%, a terceira maior alta da década. Outra peculiaridade: o crescimento trimestral do PIB foi o sexto consecutivo desde janeiro de 99, mês da desvalorização cambial.
À vista desses dados, a pergunta que fica no ar é: esse crescimento é consistente? É mesmo para valer? Para Marcílio Marques Moreira, o ex-ministro da Fazenda, se a aterrizagem da economia norte-americana não provocar nenhum choque no cenário internacional, o país tem tudo para crescer 4% ou mais e manter uma boa média nos próximos dois a três anos. Depois disso, “só com reformas, principalmente a tributária” (Folha de S.Paulo, 10.08.2000). Já para o economista José Roberto Mendonça de Barros (jornal Valor Econômico, 20.07.2000), o país pode conviver com dois anos de crescimento de 3% a 3,5% mas, depois disso, esbarrará em limites graves na infra-estrutura, sendo o nó principal a oferta de energia, além de gargalos nos transportes e falta de financiamento. Fora isso, segundo ele, a retomada do crescimento vai reabrir o debate distributivo:

“Não dá para ter um governo de oito anos apenas com uma agenda de estabilização. Se ela der certo, como deu, é preciso ter uma agenda de crescimento com mais igualdade.”

José Roberto Mendonça de Barros, Valor Econômico, 20.08.2000

Para o economista Antônio de Barros Castro, ex-presidente do BNDES, esse impedimento é sério porque “se a tensão social multiplica crises, ou ameaça de crises, a conduta do empresário vai ser reticente” (Valor Econômico, 07.08.2000) e ele tende a se abster de investir, interrompendo o ciclo de crescimento.
Moral da história: de fato, começam a aparecer indícios de que, apesar das idas e vindas do governo, a economia brasileira, desatado o nó cambial, dá mostras de ter capacidade de virar o jogo da falta de crescimento. Segundo o economista Luiz Gonzaga Belluzzo (revista CartaCapital, 16.08.2000), “é preciso reconhecer que a melhora do quadro internacional e a boa gestão macroeconômica, liderada pela equipe do Banco Central, ensejou a reação brasileira. Os rapazes do dr. Armínio Fraga trabalharam bem na posteridade da desvalorização de janeiro de 1999.”
Vamos torcer para que esse começo de reação seja o início da retomada do desenvolvimento sustentado (na casa dos 6% a 7%, nunca é demais lembrar!) de que tanto precisa o país e que há duas décadas não temos. Adicionalmente, é bom torcer também para que o governo, contrariando a incrível trajetória de crises, cumpra o seu papel e ajude a desobstruir os gargalos existentes nesses pouco mais de dois anos que tem pela frente. Potencial existe de sobra. O que tem faltado é um pouco de sorte para o país e mais proficiência do governo, duas coisas difíceis de acontecer juntas no Brasil.

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