Definir prioridades ajuda a dizer nãoe a levar uma vida mais descomplicada

 
Dizer “não” às solicitações descabidas que recebemos, como abordado no Gestão Hoje anterior (ver número 457), é uma das coisas, ao mesmo tempo, mais importantes, difíceis e exigentes com as quais nos deparamos para a administração cotidiana do nosso recurso mais precioso que é o tempo.
Luiz Carlos Martins no livro “Assertividade – A Arte de ser Objetivo” (Editora Suma Econômica) faz um comentário muito interessante sobre o porquê de dizermos “sim” quando deveríamos dizer “não”.
“Dizemos sim porque (quase sempre) não queremos pôr em risco a estabilidade da nossa relação com a pessoa; dizemos sim por medo de perder o emprego, por não querer magoar alguém, para evitar um conflito com um colega de trabalho etc. Depois vem o arrependimento e uma sensação horrível de mal-estar.”
Luiz Carlos Martins
O drama de dizer “não” é, justamente, o do risco que encerra. Todo não é um incômodo, uma porta fechada, uma certeza de frustração e uma incógnita sobre a reação do interlocutor. Por isso é mais fácil, embora muito mais perigoso, dizer “sim”. O bônus do “sim” é imediato e o ônus vem depois, justamente o contrário do “não”.
“A palavra ‘não’ – que é uma das cinco primeiras palavras que aprendemos na vida – é, com certeza, a palavra que encerra maior risco na comunicação interpessoal (…) Sempre que dizemos ‘não’ quebramos a expectativa do nosso interlocutor e ficamos sem saber que rumo tomará nossa relação com ele. É por isso – por medo das possíveis conseqüências – que muitas vezes dizemos ‘sim’ quando, na verdade, gostaríamos de dizer ‘não’. Um ‘sim’, nestas horas, pode até evitar um estrago maior na nossa relação mas, com certeza, fará um estrago bem maior na nossa auto-estima.”
Luiz Carlos Martins
Elaine St. James, autora do livro “Simplify your Life: 100 Ways to Slow Down and Enjoy the Things that Really Matter”, chega a ser peremptória em relação à questão:
“Você não consegue levar uma vida simples se não souber dizer não”
Elaine St. James
À moda dos norte-americanos, que são de uma objetividade prática, na maioria das vezes, desconcertante, avança numa receita de como preparar-se para dizer não. A sugestão, certamente, não pode aplicar-se integralmente à nossa índole latina e, mais do que isso, ibérica, mas pode servir como uma interessante referência.
“Ninguém consegue manter mais de três prioridades (…) Descubra quais são suas prioridades e diga não para todo o resto.”
Elaine St. James
Não é fácil, na vida real, muito menos na vida real latina, nem escolher três prioridades nem, muito menos, dizer não para todo o resto. Todavia, vale a sugestão como tentativa. De fato, a simples experiência demonstra que quem tem muitas prioridades, na prática, não tem prioridade nenhuma. Por isso, ter clareza sobre qual deve ser o foco de nossas preocupações, ajuda (e muito) a escolher melhor ao que e a quem dizer “sim” ou “não”.
O principal de tudo, depois da convicção da necessidade de dizer “não”, é fazê-lo de um modo elegante e suportável para o interlocutor. Um “não” dito de uma forma pouco cuidadosa pode, na prática, mostrar-se tão danoso quanto o “sim” que não deveria ser dito. Portanto, todo o cuidado é pouco com o “não” porque não basta ele ser legítimo, tem que ser, também, competente.