Pela aceleração que se verifica na marcha das tropas norte-americanas em sua escalada no Iraque e mais notadamente sobre Bagdá, a impressão que se tem é de uma grande corrida contra o tempo.
Napoleão, um dos grandes estrategistas da história militar, além de um administrador notável em sua época, refere-se à questão do tempo na guerra de modo muito interessante:

“A estratégia é a ciência do emprego do tempo e do espaço. Sou menos avaro com o espaço do que com o tempo. O espaço podemos reganhá-lo. O tempo perdido jamais.”

Napoleão Bonaparte, 1769-1821, imperador francês

Ele próprio sentiu na pele a gravidade de sua frase com a derrota na frente russa para aquele que se convencionou chamar de “general inverno” (derrota que, inclusive, abriu-lhe a guarda para a posterior deposição, o ostracismo e a morte). Falhas de planejamento e uma resistência do inimigo não prevista deixaram o exército francês, a despeito de sua conquista de Moscou, sem suprimentos, à mercê do rigorosíssimo inverno russo. Resultado: dos 655 mil soldados levados ao front, só 85 mil retornaram depois de um ano de campanha, em 1812.
O impressionante é que, pouco mais de um século depois, Adolf Hitler caiu nessa mesma armadilha, o que provocou a contra-ofensiva russa que só parou com a dominação de Berlim e a morte do líder nazista.
No Iraque a pressa se dá por medo de um outro general: o “general deserto”.  Com a chegada do verão na região do conflito, a temperatura de 40 graus à sombra constitui-se num poderoso tormento para as forças de ocupação com roupas espessas e equipamento pesado.
Impulsionadas pela doutrina “Choque e Pavor”, posta em prática pelo secretário de Defesa Donald Rumsfeld (dominação rápida com limitado contingente terrestre e forte apoio aéreo), as tropas de ocupação fizeram, no mero espaço de quatro dias, um impressionante avanço de 400 km, deserto a dentro, até as portas de Bagdá. Pela pressa, cometeram erros iniciais importantes, mas refizeram os planos, também rapidamente.

“O governo Bush trabalhava com duas hipóteses iniciais que não se realizaram: a adesão da população aos ‘libertadores’ e o sucesso da chamada guerra eletrônica. Com uma realidade diferente depois dos combates, o Estado-Maior americano foi obrigado a improvisar um estratégia militar alternativa e, certamente, a pensar em um novo pós-guerra político.”

Luiz Carlos Mendonça de Barros, FSP, 04.04.2003

Uma mostra evidente, não só do poderio militar norte-americano, mas da eficácia incontestável de sua formidável máquina de guerra. A celeridade da mudança de planos e a flexibilidade de suas táticas, numa ação também de grande rapidez, com um contingente terrestre relativamente pequeno (os reforços que duplicarão a força de ocupação de 100 para 200 mil combatentes no Iraque ainda estão a caminho da região) permitiram a tomada do aeroporto de Bagdá e o bloqueio quase que completo da capital iraquiana.
Mais do que o “general deserto” outro que aflige a campanha contra Saddam Hussein é o “general tempo”. Cada dia sem o atingimento dos objetivos definidos, é uma perda de “espaço” na guerra da comunicação.

“O campo de percepção de uma guerra é mais importante que o campo de batalha propriamente dito.”

Paul Virilio, 70 anos, filósofo francês

Os EUA e seu aliado, a Grã-Bretanha, entraram numa empreitada perigosa, precipitada e arriscada. Agora, correm contra o tempo para alcançar, logo, a inevitável vitória real, antes que sobrevenha a derrota moral que a opinião pública mundial ameaça lhes infligir.

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