Governo Lula prestes a concluir oseu primeiro tempo com vitória apertada

 
Faltando menos de um mês para completar o primeiro dos seus quatro tempos, pode-se dizer que, pelo menos do ponto de vista econômico, o governo Lula começa ganhando o jogo. Com um placar apertado, mas ganhando.
“A inflação foi derrotada mais uma vez (…), mercê da firmeza da política econômica adotada pelo Governo Lula. O árduo esforço fiscal em curso, expresso na manutenção de um superávit primário de 4,25% do PIB, demonstra inequivocamente o compromisso governamental de manter sob controle o endividamento público.”
Luciano Coutinho, economista, Unicamp
Esse placar temporário, todavia, não significa nenhuma moleza para as próximas etapas. Mesmo para garantir o resultado econômico, ainda há que marcar, pelo menos, mais um gol para não deixar que a vitória escape no tempo regulamentar.
“Asseguradas essas duas premissas (inflação baixa e solidez fiscal) é essencial completar a construção de uma imprescindível terceira condição: a da redução duradoura da vulnerabilidade externa da economia. Isso exige um superávit comercial de grande escala (de 3% a 4% do PIB) por vários anos consecutivos.”
Luciano Coutinho, economista, Unicamp
Essa é uma vantagem a administrar que exigirá grande atenção e cuidado do governo e da sociedade. Na prática, significa a manutenção por muito tempo do bem sucedido esforço exportador dos últimos dois anos.
Essa necessidade torna-se premente porque não temos “saldo de gols” (reservas cambiais) suficientemente, capazes de nos manter com tranqüilidade na competição.
“País que tem (…) uma dívida que é 3,5 vezes o valor de suas exportações, para mim já bateu no limite do endividamento externo, há muito tempo. (…) Esse passivo obriga o país a pagar US$ 25 bilhões a US$ 30 bilhões de juros e remessa de lucros e dividendos por ano, sem importar nada. (…) Você vai precisar de uma política para segurar o câmbio com reservas. (…) Estamos em um mundo onde as reservas da China batem em US$ 400 bilhões e a Ã?ndia está com mais de US$ 100 bilhões.”
Yoshiaki Nakano, economista, FGV/SP
Reservas cambiais minimamente confortáveis são indispensáveis para recolocar o Brasil de volta na “primeira divisão”, no grupo de países considerados financeiramente “sérios” (que honram os contratos assumidos, pagam suas obrigações, não dão calote nas suas dívidas, etc.).
“Um colchão adequado de reservas propiciará ao país desfrutar de uma taxa de risco cambial muito mais baixa e alcançar em poucos anos uma taxa de juros reais bem mais reduzida (inferior a 6% a.a.). Com efeito, é perfeitamente factível almejar, em cerca de três anos, o status de ‘investment grade‘. Esse objetivo, se alcançado, representaria a consolidação de condições de autonomia e robustez da política de crescimento.”
Luciano Coutinho, economista, Unicamp
Só assim, com resultados consistentes de médio prazo, é possível almejar a conquista das condições mínimas, indispensáveis, para a retomada daquilo que a sociedade anseia há duas décadas seguidas: a retomada do desenvolvimento em bases sustentáveis e duradouras.