No Brasil os avanços são muito lentosmas não podemos desistir de persegui-los


No primeiro GH do ano, vale o registro que 2004 terminou, no mundo, sob o impacto do terrível maremoto que devastou extensas regiões costeiras de 12 países banhados pelo oceano Ã?ndico. No Brasil, fora a genuína consternação pela catástrofe, a constatação de um ano excepcionalmente bom para a economia e uma grande dúvida sobre se esse crescimento se sustenta ou se não passa de mais um “vôo de galinha”, como tantos outros testemunhados nos últimos anos.
A dúvida conjuntural e disseminada sobre a sustentação do crescimento inscreve-se, com certeza, no rol das dúvidas estruturais sobre a própria viabilidade do país como nação desenvolvida. Esse sentimento, embora não tão explícito quanto o outro, é tão disseminado que um jornalista experimentado como Clóvis Rossi é capaz de dizer o seguinte:
“Às vezes bate uma vontade enorme de desistir. De que adianta ficar criticando o governo, qualquer que seja o governo, se as coisas não mudam ou mudam tão pouco que, à essa altura da vida, já dá para perceber que não terão alteração significativa até o fim dos tempos (os meus tempos, claro)?”
Clóvis Rossi, Folha de S. Paulo, 23.12.2004.
Por certo não se trata de um sentimento despropositado. A história do Brasil, sobretudo a recente, é pródiga na crônica das oportunidades perdidas de colocar o país na trilha do desenvolvimento social e econômico sustentado. O país do futuro e do crescimento acelerado da segunda metade do século 20 terminou se transformando no país das oportunidades desperdiçadas e do crescimento medíocre dos últimos 25 anos. O país da desigualdade social, da violência, da falta de segurança.
É verdade. Os desencantados têm razões para o pessimismo. Se há uma coisa que as marchas e contramarchas da história recente parecem evidenciar é que, por razões ainda desconhecidas, as mudanças e os avanços são muito lentos para serem percebidos com facilidade. Enervantemente lentos. Tão lentos que parecem imobilismo ou retrocesso. Felizmente não são todos pessimistas. Há os que já parecem ter percebido o ritmo arrastado das mudanças e a necessidade de cuidado para fazê-las, como é o caso do presidente Lula:
“O Brasil não é um fusquinha, que pode dar um cavalo-de-pau, é um transatlântico. Se a virada não for feita aos poucos, pode afundar. E nós não temos vocação para Titanic.”
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil.
Só para dar alguns exemplos de avanços pouco perceptíveis mas efetivos: Código de Defesa do Consumidor; Código Nacional de Trânsito; Lei de Responsabilidade Fiscal; Reforma do Judiciário. Hoje, um consumidor recebe o seu dinheiro de volta se for enganado; os carros não estacionam nas faixas de pedestres; um governante pode parar na cadeia se vier a se mostrar um irresponsável fiscal; e a súmula vinculante vai tornar menos injusta a Justiça brasileira. Etc. Etc. Etc. É pouco? É. Poderia ser mais rápido? Poderia. Deveria? Deveria. Mas não é por causa disso que vamos desistir. Só para lembrar, neste início de ano, que não devemos nem podemos desistir, uma frase de Darcy Ribeiro:
“No dia em que todo brasileiro comer todo dia, quando cada criança tiver um primeiro grau completo, quando cada homem e cada mulher encontrar um emprego estável em que possa progredir, se edificará aqui a civilização mais bela desse mundo. É tão fácil; estendendo os braços no tempo, sinto na ponta dos dedos esse utopiazinha nossa se realizando.”
Darcy Ribeiro, “Aos Trancos e Barrancos”.
O Gestão Hoje e a TGI desejam aos leitores, clientes e amigos um 2005 excelente e cheio de vontade de realizar essa “utopiazinha”. Sem excesso de pessimismo ou, ao contrário, sem a ilusão de que se consegue fácil. É difícil mas é possível.

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