Depois de um final de ano relativamente calmo (se comparado com o pânico do fim de outubro e começo de novembro), recomeçaram os tremores econômicos na Ásia.
O FMI, após ter amarrado um pacote de ajuda à Coréia de US$ 51 bilhões que contou com o aval do novo presidente eleito, exigiu da Indonésia, como medida prévia à montagem de um esquema semelhante de socorro financeiro internacional da ordem de US$ 40 bilhões, o fechamento de 16 bancos locais por insolvência. Pensava que, com isso, haveria mais confiança popular nas medidas seguintes. O resultado foi o oposto: pânico e corrida aos bancos e às compras de gêneros básicos, deixando o sistema local à beira do colapso e propagando uma onda de calafrio para as instituições financeiras da região.
O que se seguiu foi: uma nova queda das bolsas; rumores de desvalorização cambial na China; críticas internas à atuação do Fundo, vasadas para imprensa; telefonema do presidente Bill Clinton ao presidente indonésio Suharto (depois de Fidel Castro, com 39 anos, o dirigente há mais tempo no poder no mundo, 32 anos); viagem de uma missão de alto nível do FMI, para região, encabeçada pessoalmente pelo diretor-presidente Michel Camdessus.
O que se pode observar como positivo depois desse novo abalo é que as autoridades mundiais, à frente os EUA, começam a dar sinais de entendimento de que a confusão atual não vai se resolver pela via do receituário econômico tradicional. Num tempo onde, já em 1995, “o valor total do comércio mundial e dos investimentos externos diretos foi equivalente a apenas seis dias de movimentação financeira nos mercados de câmbio globais” (Mailson da Nóbrega, Folha de São Paulo, 02.01.98), enfrentar as crises com tratamento monetário ortodoxo equivale a tratar as ocorrências do vírus ebola com os procedimentos epidemiológicos consagrados.
Para problemas novos, soluções novas. A globalização financeira exige abordagens inovadoras que deêm à componente política (e de negociação das diferenças) importância similar à aquela dada à componente econômica.
Neste particular, merece destaque o empenho dos EUA na convocação de uma reunião internacional extraordinária, provavelmente do G7, para discutir o aprofundamento da crise asiática e as soluções possíveis.
Uma coisa parece certa: sem a criação de um fórum para tratar essas angustiantes questões e sem a conseqüente reforma das instituições encarregadas da regulagem internacional, a começar pelo FMI, os solavancos continuarão e o risco de anarquia financeira global não pode ser descartado.
Enquanto isso não ocorre, resta-nos, na trincheira empresarial, torcer para que o bom senso prevaleça, exigir do governo federal responsabilidade máxima, trabalhar muito pela sanidade financeira das empresas e pela fidelidade ativa dos clientes. Com toda atenção possível porque 1998 não será um ano fácil.