Sob a Névoa da Guerra:as 11 lições de Robert McNamara


Numa época especialmente turbulenta como a nossa, assistir ao filme The Fog of War: Eleven Lessons of Robert S. McNamara, traduzido para o português como “Sob a Névoa da Guerra”, é uma aula sobre os desafios do comando.
Vencedor do Oscar de melhor documentário, o filme se estrutura sobre uma entrevista de 20 horas do ex-secretário de Defesa dos EUA e ex-presidente do Banco Mundial, Robert McNamara, ao diretor Errol Morris.
Sua importância baseia-se no fato de “as lições” resultarem de um exame de consciência ocorrido depois dos acontecimentos. Depois que a névoa dissipou-se, portanto, já que durante as batalhas ela encarrega-se de turvar a visão de quem comanda.
Logo no início, McNamara, que comandou na década de 1960 a fabulosa máquina de guerra norte-americana e foi considerado o principal arquiteto da guerra do Vietnã como secretário dos presidentes John Kennedy e Lindon Johnson, surpreende, aos 85 anos, os expectadores com um desconcertante misto de constatação e mea culpa:
“Todo comandante militar comete crimes de guerra.”
Robert S. McNamara, The Fog of War
Uma das mais polêmicas e influentes personalidades políticas de sua época, McNamara foi garoto prodígio, com MBA em Harvad aos 23 anos, serviu nas Forças Aéreas dos aliados na II Guerra, aposentou-se como tenente-coronel em 1946, quando ingressou como estatístico na Ford. Em 1961, apenas cinco semanas depois de ter se tornado o primeiro presidente da montadora não membro da família Ford, McNamara aceitou o convite do recém eleito presidente John Kennedy (1917-1963) para chefiar a Defesa. Foi secretário de 1961 a 1968, período em que viveu pessoalmente três momentos cruciais da geopolítica mundial no século 20: a crise cubana dos mísseis em 62, o assassinato de Kennedy em 63 e o início da guerra do Vietnã.
Em meio a várias declarações surpreendentes, McNamara contabiliza o resultado do bombardeio de Tóquio com bombas incendiárias em 1945.
McNamara participou, como estrategista, desse bombardeio que resultou em 100 mil civis japoneses mortos e metade da cidade, que na época era de madeira, destruída pelas chamas. Chega, mesmo, a insinuar que se os EUA não tivessem sido vencedores, os militares responsáveis pelo comando das operações seriam julgados por crime de guerra.
Além das declarações de valor histórico, o que é particularmente interessante do filme são os ensinamentos de McNamara. São 11 as “lições”:
1.Tenha empatia com o inimigo.
2.Proporcionalidade deveria ser uma regra na guerra.
3.Existe algo além de nós mesmos.
4.Acreditar e ver estão, ambos, freqüentemente errados.
5.Esteja preparado para reexaminar as suas razões.
6.Consiga dados.
7.A racionalidade não nos salvará.
8.Não se pode mudar a natureza humana.
9.Maximize a eficiência.
10.Para fazer o bem talvez você precise se aproximar do mal.
11.Nunca diga nunca.
As “lições” merecem reflexão ponderada para que a ética não seja subjugada pelo afã de vencer a qualquer custo e não se venha precisar de mea culpa, depois dos fatos acontecidos.
Com esse cuidado, são ensinamentos válidos tanto para quem comanda as modernas batalhas empresariais quanto para quem comanda as militares ou políticas, como é o caso do presidente Bush que, seguramente, desconsidera a maioria das lições, sobretudo as mais sensatas e dá particular ênfase à de número 10, justamente a mais discutível do ponto de vista ético.