A crise na Ásia e o Real

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“A principal consequência negativa do Plano Real é deixar o país vulnerável aos ataques do capital especulativo.”

Tânia Bacelar de Araújo, Jornal do Commercio, 17.07.97

“Com a crescente mobilidade internacional de capitais, moedas valorizadas e âncoras cambiais tornam-se cada vez mais difíceis de defender no médio prazo.”

Paulo Nogueira Batista Jr., Folha de São Paulo, 17.07.97

“O buraco das contas externas brasileiras é insustentável a longo prazo. Seria preciso crescer 17,5% ao ano para manter estável o atual desequilíbrio externo, o que é obviamente impossível. Um ajuste, portanto, é inevitável.”

Conclusão de estudo do banco americano JP Morgan, citado por Celso Pinto em sua coluna do Jornal do Brasil, 18.07

“O que dá ao Brasil uma garantia de travessia é a privatização. O programa vai sustentar um nível alto de reservas e, a curto prazo, é um fator forte de dissuasão de ataques especulativos ao Real.”

Fernando Sampaio, economista do Banco Vetor, Gazeta Mercantil, 14.07.97

    A forte oscilação das Bolsas de Valores brasileiras na semana passada deve ser entendida como um sinal de alerta sobre a estabilidade do Real, ainda que o governo diga o contrário.

    É verdade que a maioria dos analistas concorda que a crise cambial dos novos tigres asiáticos (Tailândia, Malásia, Indonésia e Filipinas) serviu apenas de pretexto para a realização de lucros pelos grandes aplicadores das Bolsas brasileiras que acumularam ganhos de 93% no último semestre (segundo Joelmir Betting em sua coluna de 17.07.97).

    Mas é preciso considerar, também, que há entre os modelos econômicos aplicados no Brasil e nos países do Sudeste Asiático em crise, na expressão do economista Paulo Nogueira Batista Jr., uma “semelhança desconfortável” (câmbio valorizado, deficit em conta corrente, dependência de ingresso de capitais externos para fechamento das contas, necessidade de reservas cambiais altas, etc).

    As diferenças são que, como destaca Joelmir Betting, o nosso déficit em conta corrente é de 4% do PIB, contra 8% na Tailândia de hoje e 9% no México de ontem; o déficit brasileiro está sendo financiado por dois terços de capital produtivo e o da Tailândia e do México por dois terços de capital especulativo; na crise do México, as reservas cambiais brasileiras estavam abaixo de US$ 30 bilhões, hoje estão acima de US$ 56 bilhões, sem contar, ainda este ano, privatizações e incorporações; e, somadas, as quatro economias asiáticas (Tailândia, Filipinas, Malásia, Indonésia) não cobrem dois terços do PIB brasileiro.

    Ao que parece, ainda temos algum tempo para não cair no inferno das débâcles cambiais. Mas não muito, com certeza.

    Afinal, de acordo com estimativas do meio financeiro, existem US$ 250 bilhões em investimentos, girando ao redor do planeta por ano (cinco vezes mais que 1990), à espera de sinais de inconsistências macroeconômicas para irem de um canto a outro, rapidamente.

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