Sucesso absoluto. Foi deste modo que foi classificado pela imprensa nacional o resultado da mais recente viagem internacional do presidente Lula à China continental.
Foram assinados diversos acordos comerciais e iniciadas conversações que poderão, segundo a revista Veja, resultar em negócios de mais de US$ 5 bilhões nos próximos anos.
Ótimo que tenha sido assim. Para um país que precisa desesperadamente aumentar seu saldo de comércio exterior, firmar acordos com um país gigante, com mais de um bilhão de habitantes e que cresce, há vários anos seguidos, a taxas próximas a 10% ao ano é um privilégio.
A partir daí, todavia, recomenda-se cautela que, junto com caldo de galinha, como recomendavam os antigos, não faz mal a ninguém, muito menos a países que não podem se dar ao luxo de perder parceiros comerciais importantes de uma hora para outra.
“A próxima crise global poder ser da China. (…) O que está acontecendo com a China se parece muito com o que ocorreu com as empresas pontocom e as ações de alta tecnologia.”
Sérgio Abranches, revista Veja, 17.12.2003
De fato, sustentando o crescimento excepcional da economia chinesa, está instalado um regime político dos mais fechados do planeta. Remanescente da revolução comunista comandada pelo lendário Mao Tse Tung, o regime forte de Pequim controla todas as instâncias da vida chinesa com mão de ferro.
Ainda hoje há execuções públicas, em estádios de futebol superlotados, de condenados em processos sumários com um tiro na nuca. Com um detalhe desconcertante: a bala usada na execução é paga pela família do condenado.
Um regime político com tal nível de fechamento é incompatível com um crescimento econômico duradouro capaz de colocar a China, dentro dos próximos 50 anos na dianteira do desenvolvimento mundial, à frente dos EUA, como prevê o banco de negócios norte-americano Goldman Sachs.
“A abertura política terá de ocorrer, cedo ou tarde. E mesmo que ocorra de forma não traumática, gradualmente, ainda assim haverá de liberar forças e gerar pressões com grande potencial de desestabilização.”
Jefferson Péres, Folha de S. Paulo, 28.05.2004
Como bem destaca Roberto Teixeira da Costa, economista e sócio da Prospectiva Consultoria Brasileira de Assuntos Internacionais, em recente artigo na Folha de S. Paulo, é preciso reconhecer que, até agora, os chineses têm administrado a abertura do seu antes fechado sistema econômico com muita competência, embora não se possa dizer o mesmo do seu sistema político.
O risco está, justamente, aí. A sedução da economia não pode acobertar o risco político e desviar a atenção dos nossos negociadores. Por isso, temos que ter muito cuidado para não ficar “pendurados no pincel”, de uma hora para a outra, devido à desestabilização política de um enorme parceiro comercial.
“Administrar nosso relacionamento com a China vai, assim, requerer grande habilidade dos nossos dirigentes e diplomatas. Problemas recentes no desembarque da soja, muito embora possam ser justificados, acendem um sinal amarelo. É preciso ter cautela.”
Roberto Teixeira da Costa