Começou a retomada do crescimentosustentado ou mais um "vôo da galinha"?

 
Todos os indicadores passaram a apontar, nos últimos dois meses, a retomada do crescimento econômico no país. As estimativas, hoje, são de uma evolução do PIB na faixa dos 4% em 2004.
A pergunta que todos fazemos, no entanto, após essa constatação é: até que ponto esse crescimento atual é sustentável e não passa, apenas, de mais uma tentativa de “vôo da galinha” da economia brasileira.
A expressão “vôo da galinha” (a galinha tenta mas não consegue voar) foi cunhada pelo economista Luiz Carlos Mendonça de Barros com o intuito de caracterizar o processo stop and go pelo qual a economia brasileira vem passando há mais de duas décadas seguidas.
“Há cerca de um quarto de século que a economia brasileira se encontra: ou em recuperação, por vezes vigorosa; ou perdendo fôlego; ou até mesmo em retração, como no primeiro semestre do ano passado. Esse é, portanto, um daqueles casos em que a média – o mísero crescimento de cerca de 2% ao ano exibido (em média) nos últimos 25 anos – pouco representa.”
Antônio Barros de Castro, FSP, 14.07.2004
A maioria dos analistas tem sérias dúvidas sobre a sustentabilidade desta retomada recente do crescimento. Em primeiro lugar, em razão da grande vulnerabilidade externa da economia brasileira que a deixa passível de contaminação diante da ocorrência de qualquer crise internacional (ver a propósito o Gestão Hoje anterior, número 491). Fatores como elevação dos juros básicos dos EUA, manutenção dos preços altos do petróleo, atentados terroristas, aversão ao risco dos países emergentes etc., podem deixar a economia enferma.
Em segundo lugar, pelos constrangimentos internos como: juros altos, falta de investimentos privados no aumento da capacidade produtiva, estrangulamento da infra-estrutura (estradas, energia elétrica, portos etc.), alta carga tributária, aperto fiscal severo que trava os recursos para os investimentos públicos indispensáveis, desemprego alto, renda deprimida etc.
Até agora, o que se verifica na presente retomada é o preenchimento da capacidade ociosa da indústria, caracterizando a fase “fácil” da recuperação.
“Mas continua presente o desafio de criar um horizonte de crescimento que estimule, progressivamente, uma retomada expressiva da criação de capacidade produtiva, isto é, do investimento, para que a economia não recaia, mais uma vez, na dinâmica do ‘stop and go’.”
Editorial, Folha de S. Paulo, 15.07.2004
Retomar a rota do desenvolvimento sustentado é, garantida a manutenção da estabilidade da moeda, o grande desafio do governo Lula. Se conseguir, terá aberto o caminho da reeleição à sua frente. Se não, entrará para a história apenas como mais um governo que tentou e não conseguiu.
“O maior desafio não está em garantir o crescimento de 2004. Em grande parte, ele não só está assegurado como deverá aumentar a sua velocidade nos próximos meses. Mas ainda não é seguro afirmar que este ano marcará o início de um longo ciclo expansivo. Conciliar a enorme expectativa de forte expansão do emprego com restrições econômicas externas e internas é o verdadeiro jogo. O resto é apenas estatística.”
Luís Carlos Assis, FSP, 09.07.2004