Economia ainda não foi mas podevir a ser afetada pela grave crise política


 
 
 
Enquanto a crise corre solta, sem que se possa vislumbrar ainda em que tudo o que está vindo à tona vai dar, a economia parece resistir sem dar sinais de ser impactada pelo escândalo político de proporções verdadeiramente impressionantes.
“O país estarrecido vê, a cada dia, se delinear mais nitidamente o contorno do mais amplo, generalizado, bem montado e profundo esquema de corrupção jamais visto.”
Miriam Leitão, O Globo, 27.07.05
Em razão dessa resistência, muitas opiniões são publicadas e/ou emitidas dando a entender que a economia estaria “blindada” pela boa performance das políticas postas em prática pelo atual governo, como se o país, agora, estivesse, como que, invulnerável às turbulências. O próprio presidente do Banco Central, normalmente bastante otimista em relação ao tema, discorda dessa opinião:
“Nenhum país é invulnerável.”
Henrique Meirelles, revista Dinheiro, 10.08.05
Na realidade, o que há é a conjugação de um bom desempenho macroeconômico, garantido por uma excepcionalmente favorável conjuntura internacional e pela postura moderada do ministro da Fazenda Antônio Palocci, reconhecida até pela oposição.
“…dados positivos que estão aí se devem à sorte de ter aparecido Palocci – não que a política econômica esteja certa, mas há uma estabilidade – e à melhor conjuntura internacional desde a crise de 1929.”
José Serra, Folha de S. Paulo, 31.07.05
De fato, essa excepcional conjuntura internacional, além da ausência de crises, tem favorecido, pela demanda, o extraordinário desempenho das exportações que praticamente dobraram de valor desde 2003 (eram de US$ de 61 bilhões e estão projetadas para chegar ao final desta ano na casa dos US$ 120 bilhões). Com isso, o superávit comercial pode fechar em 2005 acima de US$ 40 bilhões, projetando um superávit em transações correntes da ordem de US$ 13 bilhões, completando três anos seguidos no azul (contra um déficit que já chegou a bater em US$ 38 bilhões em 1998). Essa corrente financeira positiva, junto com os juros reais mais altos do mundo (em torno de 14% ao ano), têm provocado uma entrada recorde de dólares que tem segurado a moeda norte-americana na casa dos R$ 2,30 (cotação atingida na semana passada, a menor cotação desde 2002). Com dólar baixo e juros altos, a inflação caiu ao nível de deflação há, pelo menos, três meses seguidos.
“Além da popularidade de Lula, o que tem segurado o governo é a popularidade do dólar.”
Paulo Delgado, deputado (PT-MG), FSP, 05.08.05
Existem, portanto, fatores internos e externos que podem afetar a economia, provocar turbulências e mexer no preço do dólar. Os internos: as investigações chegarem ao presidente da República ou ao ministro Palocci. As externas: alguma crise que retraia a demanda pelas importações brasileiras ou faça o capital volátil ter medo de vir para o Brasil (não esquecer que FHC enfrentou, durantes seus 8 anos de governo, 6 crises externas com graves repercussões na economia).
“Não é possível blindar a economia. Os acertos ajudam a diminuir os efeitos das crises, mas não há um momento em que se pode dizer que nada atravessa a tênue fronteira entre política e economia.”
Miriam Leitão, O Globo, 30.07.05
Resta torcer para que esses fatores de turbulência não venham a ocorrer, mudando a força dos ventos que impulsionam a ainda frágil economia brasileira. Se isso ocorrer, a capacidade do governo de enfrentar uma crise cambial é bastante reduzida.

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