FMI: a última cartada

Antes de iniciar, o 2º Governo FHC já deu sua última cartada. Fechou um acordo com o Fundo Monetário Internacional que assegura ao Brasil um volume de recursos externos da ordem de US$ 41,5 bilhões até 2001 (US$ 18 bi, do próprio FMI; US$ 4,5 bi do BID; US$ 4,5 bi do BIRD; e US$ 14,5 bi dos países ricos componentes do G-7, através do Banco para Compensações Internacionais da Basiléia, o BIS, considerado o “banco central dos bancos centrais”), num dos maiores pacotes financeiros de ajuda internacional da história do Fundo.
O acordo baseou-se num Memorando de Políticas Econômicas (novo nome dado pelo governo à antiga “Carta de Intenções”). Remetido sexta-feira 13 (torçamos para que a data não seja de mau agouro) e prontamente aceito pelo diretor-gerente do FMI, Michel Candessus. O Memorando confirma os termos do ajuste fiscal já divulgado pelo ministro Malan há duas semanas atrás.
A expectativa de todos é que isso seja suficiente para resgatar a confiança da comunidade financeira internacional no país, reestabelecer os fluxos financeiros externos, interrompidos com o calote da Rússia, e fazer parar a sangria das reservas cambiais, estabilizando-as na casa dos US$ 40 bilhões. Com isso, o governo espera ganhar tempo para continuar atacando a sobrevalorização cambial com a política de ajustes progressivos do Real, dentro do sistema de bandas, evitando uma maxidesvalorização de conseqüências imprevisíveis.
Estamos, portanto, dependentes da confiança, num ambiente financeiro global marcado pela incerteza. Não é uma coisa boa mas é o que é possível, dadas as condições em que ficamos pela teimosia do governo em manter uma “aposta” de estabilização baseada na excessiva dependência de capitais externos, a maioria “voláteis”, enquanto as reformas estruturais internas andavam a passos de tartaruga, atropeladas pelos manobras reeleitorais. Quando os investidores, já ressabiados pela crise da Ásia, foram surpreendidos com a moratória russa e fecharam os cofres, o país foi pego desprevenido, com uma conta enorme para pagar, sem crédito e com as reservas em sangria desatada. A única alternativa, para também não quebrar, foi pedir socorro e uma conta garantida ao FMI que, para os padrões internacionais, justiça seja feita, atendeu prontamente.
O mérito pelo pronto atendimento deve-se, em parte, à competência da equipe econômica do governo que tratou de debelar logo o incêndio, antes que ele se tornasse incontrolável, ao prestígio de Pedro Malan nos fóruns financeiros internacionais e, principalmente, ao entendimento dos países desenvolvidos de que há uma boa chance de reverter a crise global se o feito dominó parar no Brasil e a América Latina escapar. Neste particular, tivemos “sorte”.
Agora, só nos resta torcer para que essa cartada dê certo e o 2º Governo FHC não termine antes de começar. O que se pode ver de positivo é que, se continuarmos com essa “sorte”, o acordo com o FMI pode servir, pelo menos, para obrigar o governo a fazer o seu dever de casa e deixar à história o legado de ter colocado o país no rumo de um desenvolvimento que seja sustentável. É pena que poderia ter sido por um custo bem menor.

“O FMI vem aí, obrigando-nos a fazer as reformas que não conseguimos por conta própria.”

Luiz Nassif, revista Ícaro Brasil, número 170, outubro 1998

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