Na melhor hipótese,2003 não será um ano fácil

 
Para o bem ou para o mal, 2003 não será, do ponto de vista macroeconômico, um ano fácil. Para o bem, se o governo que entra conseguir contornar as dificuldades herdadas do governo que sai e chegar em 2004 apto a imprimir sua marca própria (mais social), preservando a estabilidade. Para o mal, se não conseguir fazer isso.
A favor do cenário positivo, o próximo governo receberá, por efeito “benéfico” da desvalorização do real e, por conseguinte, do aumento do saldo da balança comercial (estimado em surpreendentes US$ 12 bilhões em 2002), o ajuste externo praticamente feito.
Conspirando para o cenário negativo, o governo Lula herdará, também por arte da valorização do dólar, o risco de repasse da alta para os preços e de um repique da inflação. Com isso, uma forte demanda por reindexação dos preços e dos salários.
Entre os dois cenários, a montagem do ministério e da equipe do Banco Central, a negociação do acordo com o FMI, a construção do “pacto socialâ€? e as prioridades declaradas pelo coordenador da transição já para início em 2003:

“Reformas tributária e previdenciária são questões fundamentais. Além disso, é preciso uma ação forte para a exportação e a substituição de importações. Em terceiro lugar, políticas de renda e de mercado interno.”

Antônio Palocci, Folha de S. Paulo, 17.11.2002

A magnitude das questões em jogo reforça a convicção de que, do ponto de vista macroeconômico, também em 2003 não haverá moleza para ninguém, como, aliás, já vem ocorrendo há pelo menos dois anos.
Em face dessas perspectivas e com a macroeconomia sem ajudar, resta às empresas o cuidado redobrado em 2003 com os fatores relacionados à sobrevivência que estão mais sob a sua governabilidade:
1. Cuidado Redobrado com a Receita
Não negligenciar a receita da empresa é um item essencial de sobrevivência num ano difícil. Não basta vender bem, é preciso receber o preço cobrado, dentro do prazo estabelecido.
2. Controle Obsessivo das Despesas
Pode-se dizer, usando uma figura de linguagem, que as despesas crescem vegetativamente. Ou seja, deixadas sem acompanhamento, só tendem a aumentar, nunca a diminuir. Por isso, toda atenção é pouca quando se trata de controlar despesas.
3. Fuga dos Juros
Sem o necessário cuidado com a receita e sem o controle obsessivo das despesas, o resultado é o pagamento de juros que, no Brasil, são os maiores do mundo. Não tem margem que resista por muito tempo ao pagamento regular de juros no país, hoje em dia.
4. Atenção aos Clientes de Hoje
Controlado o caixa, a atenção deve concentrar-se no melhor atendimento possível aos clientes que compram da empresa, hoje. Na expressão de Sam Walton, fundador do Wal-Mart, o cliente é que é o verdadeiro patrão, pois se não comprar ele demite todo mundo, inclusive o presidente.
5. Prospecção Cuidadosa dos Clientes de Amanhã
Cuidar dos clientes atuais, só, não basta. Por melhor que sejam os produtos e os serviço, as estatísticas mostram que a empresa perde de 10 a 20% dos clientes por ano, em decorrência de uma rotatividade que pode ser considerada natural. Conseguir novos é, portanto, essencial à sobrevivência.
Cuidado, portanto, com os fatores mais sujeitos à governabilidade de empresa é uma atitude necessária em 2003 para garantir a travessia para 2004.

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