O governo Lula entre o sucessoinicial e o risco de fracasso a médio prazo


A observação da trajetória do governo Lula até agora chama a atenção para a questão da convivência de uma parcela de sucesso com outra de fracasso.
O sucesso foi o inicial de transmitir confiança aos formadores de opinião, sobretudo internacionais, acerca dos rumos da economia (que sofreu um abalo no final da semana passada). O fracasso, de médio prazo, está na dificuldade de recolocar o país no caminho do desenvolvimento sustentado; e o fracasso, de curto prazo, pelo menos inicial, está na condução das reformas, sobretudo a da Previdência que está na ordem do dia.
No caso da reforma da Previdência, o fracasso vai-se configurando na tentativa de propor algo de difícil sustentação face à forte reação dos segmentos cujos interesses foram contrariados e a subsequente tentativa do governo em atendê-los. É atribuída a John Kennedy a seguinte frase:

“Eu não sei o segredo do sucesso, mas o do fracasso é tentar agradar a todo mundo.”

O duro teste da realidade mostra que o mérito da iniciativa bem sucedida não está apenas nas boas intenções nem num bom planejamento. Está, sobretudo, na capacidade de colocar em prática o planejado. Larry Bossidy, bem sucedido executivo norte-americano e co-autor do livro “Desafio-Fazer Acontecer” (editora Negócio), diz o seguinte sobre a questão:

“O sucesso de uma empresa não está no seu plano estratégico, mas em sua capacidade de fazê-lo tornar-se realidade.”

Larry Bossidy, revista Exame, 13.11.2002

Por melhores que sejam as intenções e mais rápida que seja a decisão, o que faz a diferença entre uma iniciativa de sucesso e um fracasso é a capacidade de fazer as coisas acontecerem, como atesta Henrique Meirelles, ex-presidente mundial do BankBoston e atual presidente do Banco Central.

“A decisão é só 30% de um projeto de sucesso. O resto é implementação.”

Henrique Meirelles, revista Você S/A, junho/2003

A questão que se coloca no momento para o governo é, justamente, a sua capacidade de fazer acontecer o que estabeleceu como importante para o país.
E, nesse particular, a postura do presidente é o fiel da balança no enfrentamento dos desafios que se colocam para o governo. Thomas Jefferson, terceiro presidente dos EUA, alertou para a importância da forma presidencial de encarar os problemas.

“O sucesso da Presidência está em não encarar como impasse o que não passa de desafio.”

Thomas Jefferson

E os desafios do atual governo são muito grandes, a começar pelos que ele mesmo se impôs como as reformas previdenciária, tributária e trabalhista, passando pela estabilização de uma economia assumida em estado bastante precário e a concluir pela retomada do desenvolvimento sustentado, com ampla inclusão social.
Uma carga bem pesada para um governo com as características do atual, com recursos escassos, maioria precária no Congresso, contestações intrapartidárias e uma grande expectativa herdada da eleição.
Para ter sucesso, como todos esperamos, numa conjuntura tão exigente, é preciso que o governo atente para as palavras do ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, comandante da cidade após os atentados de 11 de setembro:

“São cinco as características do sucesso: princípios, coragem, preparação, trabalho em equipe e comunicação.”

Rudolph Giuliani, revista Dinheiro, 01.05.2002

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