O mais duro teste do Real

“É como se você estivesse fazendo um piquenique num jardim e de repente descobrisse que vem vindo um furacão. Não dá para ficar parado esperando ele chegar.”

Antônio Kandir, Ministro do Planejamento, revista Exame, 19.11.97

    Depois de passar três anos pensando que estava num piquenique que ia durar oito, o governo, agora, está correndo assustado atrás do prejuízo.

     Terá que fazer, em um ano (eleitoral), o que não fez em três. Do ponto de vista econômico, reduzir drasticamente o déficit externo e o déficit público, ajustando mais aceleradamente o câmbio e diminuindo a vulnerabilidade macroeconômica. Do ponto de vista político, aprovando as reformas que estão no Congresso e outras que terão que ser feitas.

     O tumulto econômico asiático ainda pode produzir fortíssimos vendavais se a Coréia do Sul não resistir e quebrar, como prevêem alguns analistas.

     Depois da elevação dos juros e do duro pacote fiscal (em grande parte uma “obturação”para permitir o fechamento do buraco que os juros altos provocarão nas contas públicas), o governo fez a lição de casa possível nesta altura do campeonato.

     E, diga-se de passagem, fez o que devia ser feito, com dureza e impopularidade, dentro do calendário de um ano eleitoral, fato inédito na história recente do país. Isto mostra que é ruim de prevenção mas é bom bombeiro.

     Resultado: forte impacto na economia. Em 98, segundo as análises atuais, o crescimento do país não passará de 1% (contra 3,5% estimado para 97). Volta a combinação amarga de juros estratosféricos e crescimento baixíssimo.

     Não se deve ter qualquer ilusão quanto à nova realidade: o Plano Real está passando e passará durante todo o ano de 98, por seu mais duro teste. E todos sofrerão as conseqüências disto. Governo, pessoas e empresas.

Imagem 145.JPG      Para as empresas, resta manter os cintos apertados porque, antes do furacão passar, os solavancos serão muitos. Da era do Real, 98 é o ano mais nebuloso e difícil de prever. É preciso muita cabeça fria, qualquer barbeiragem pode ser fatal. É possível que aumentem as falências e as concordatas.

     Além de trabalhar duro, devemos torcer muito para que as medidas tomadas sejam suficientes. Caso contrário, para defender a estabilidade, virão outras, duríssimas e fortemente recessivas (por exemplo: outro aumento cavalar dos juros), antes de uma última e desesperada: a maxidesvalorização cambial. Se ela precisar ser realizada, será com altíssimos custos sociais.

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