Os juros e o crescimento do país

“… a estabilização só vai se completar quando a economia voltar a crescer. E para isso é preciso baixar os juros.”

José Roberto Mendonça de Barros, economista, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda

O Copom (Comitê de Política Econômica do Banco Central), reunido na semana passada, resolveu manter a taxa básica de juros brasileira (a chamada Selic) em 18,5% ao ano (a norte-americana, aumentada na semana anterior, está em 6,5% ao ano). É, segundo a revista Dinheiro, “a taxa de juro real mais espetacular do planeta“, embora a economia brasileira “esteja longe de ser a economia mais arriscada do mundo“. E olhe que já esteve na casa dos 45%, após a crise da Rússia, dos 41%, após a crise da Ã?sia e dos 43%, após a desvalorização do real, em janeiro/99.
Isso, no que diz respeito às taxas básicas. O que dizer das taxas na ponta dos empréstimos? Segundo dados do próprio Banco Central, a taxa média cobrada pelos bancos no crédito a empresas e pessoas físicas (que já vinham em queda desde 1999) ficou, entre março e abril passados, em 58,1%. Na média, porque para as pessoas jurídicas foi de 45,7% e para as pessoas físicas ficou em 77,8% ao ano. Para o cartão de crédito e cheque especial, a taxa atingiu o espantoso patamar de 152,3% ao ano.
A tese de José Roberto Mendonça de Barros é de que a política de estabilização está prestes a se exaurir se o crescimento econômico não for retomado e não é possível pensar em crescimento sem crédito suportável. Segundo ele, “nenhuma economia cresce sem crédito. A retomada do crescimento exige, entre outras coisas, a reconstrução do sistema de crédito“. Mas a coisa chegou a um ponto em que até os banqueiros parecem recomendar não pedir empréstimo.

“Pegar um empréstimo para investimento é quase assinar a certidão de óbito da empresa.”

Olavo Setúbal, presidente do Conselho do banco Itaú, revista Dinheiro, 31.05.2000

Voltar a um patamar de crescimento na casa dos 6% ao ano é, mais do que nunca, um imperativo moral para o país. Segundo dados recentes do IBGE, a massa de trabalhadores que entra a cada ano no mercado de trabalho é da ordem de 1,5 milhão de pessoas. As estimativas são de que, só para gerar emprego para esse contingente, o PIB precisa crescer 5,5% ao ano, sem falar na geração de empregos para quem está desempregado (para o IBGE, o desemprego atual é de 8%, para o DIEESE é de 18%). Se isso não ocorre, as condições sociais continuam se deteriorando e podem chegar a um colapso.
É verdade que não é só baixar o juros e pronto. A política conservadora do Banco Central fundamenta-se na observação do cenário externo (oscilação das bolsas, aumento dos juros e perspectivas de desaquecimento da economia norte-americana, além da crise na Argentina). Mas como lembra o José Roberto Mendonça de Barros, com o requisito de quem já viu a coisa “de dentro”: “… chega o momento em que falta de crescimento começa a gerar problemas difíceis de administrar (…) reconheço que existe uma situação de vulnerabilidade, mas ela é muito menor se o país voltar a crescer“. A sociedade parece estar começando a se convencer disso.

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