Quem sonha ser uma potência econômicatem que querer ser uma potência olímpica também


Depois da overdose de olimpíadas que todos tomamos, de um modo um tanto forçado pela cobertura espetaculosa da mídia, voltar ao tema exige, antes de qualquer coisa, um pedido de licença ao leitor. De fato, o assunto, de um modo geral, já “encheu o saco” como atestou a resposta unânime dos ouvintes a uma pesquisa feita ao vivo por um popular programa de rádio no Recife, ainda em plenos jogos. O colunista Artur Xexéo, na sua última coluna foi, a respeito, preciso:
“… o melhor de uma Olimpíada é que a seguinte só acontece quatro anos depois.”
Artur Xexéo, O Globo, 05.09.2004
Todavia, em razão dos vários comentários recebidos pelo Gestão Hoje em relação o número anterior (498), voltar ao assunto tornou-se necessário. Além do mais, o próprio governo, em sua mais recente investida de exaltação patriótica, vai ainda esticar o assunto na semana da pátria com a recepção festiva aos atletas olímpicos em Brasília.
A tônica principal dos comentários recebidos foi a de que o desempenho do Brasil nos jogos não foi tão modesta conforme a tese defendida no número passado. Afinal, teríamos ficado, na classificação geral, segundo o entendimento de um leitor, à frente “de países como Canadá, México, Argentina, Bélgica e muitos outros de poderio econômico e de maior nível de qualidade de vida que o Brasil”; e, no entendimento de outro, com desempenho “bastante superior ao da Índia”.
Longe do intuito de polemizar, todavia, parece importante detalhar um pouco mais a tese da participação modesta, embora reconhecidamente melhor do que das vezes anteriores.
Preliminarmente, é importante destacar que nenhum desses países citados deve servir de base de comparação para o Brasil. Em primeiro lugar, pelo critério populacional (Bélgica com 10 milhões de habitantes, Canadá com 30 milhões, Argentina com 36 milhões e México com 100 milhões). Na semana passada o IBGE confirmou uma população brasileira de 180 milhões (só São Paulo tem 36 milhões, uma Argentina e quase quatro Bélgicas). Em segundo lugar, pelo critério econômico.
Em ambos os casos, a exceção é a Índia que tem uma população que ultrapassa 1 bilhão de habitantes e é uma potência econômica emergente de peso.
Estudo feito pelo banco de investimentos norte-americano Goldman Sachs, projeta dentro de um horizonte de 50 anos, mantidas as atuais tendências de crescimento, uma completa mudança na geografia econômica do planeta com a ascensão do chamado bloco BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) ao topo da economia mundial. Pelo estudo, a China ultrapassaria os EUA e o Brasil ficaria em quinto lugar em termos de PIB, suplantando todos os outros países que hoje ocupam as primeiras posições no ranking mundial, como é o caso do Japão, da Itália, da Inglaterra, da França e do Canadá.
Por essa razão, portanto, não devemos nos contentar com o modesto, ainda que melhor, desempenho atual. Podemos e devemos melhorar muito mais, inclusive pela massificação do esporte como uma política de estado.
“Esporte é saúde massificada. Muita gente praticando para que se descubram os fenômenos genéticos e psicológicos que são os campeões.”
Vinicius Torres Freire, Folha de S. Paulo, 23.08.2004
Isso, claro, com o necessário e indispensável investimento no chamado esporte de alto rendimento (no aperfeiçoamento de uma elite de atletas para obtenção de vitórias em disputas internacionais). Como, aliás, foi tentado pela primeira vez nessa olimpíada.Não podemos sonhar em ser uma potência econômica sem que também queiramos ser uma potência olímpica e, para isso, não podemos nos contentar com resultados modestos, por melhores que pareçam.

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