Uma empresa de US$ 500 bi

Com o aumento de 5,4% nas suas ações, ocorrido no pregão da Bolsa de Nova York sexta-feira 16.07.99, a Microsoft atingiu o inacreditável valor de mercado de US$ 507,5 bilhões, tornando-se a empresa mais cara da história. Com isso, Bill Gates, 43 anos, presidente do conselho e detentor de 19,4% das ações da empresa, tem seu patrimônio pessoal aumentado para cerca de US$ 100 bilhões.
Esse é um valor espantosamente alto, principalmente quando se considera, como bem destaca Joelmir Beting em sua coluna de 20.07.99, que a empresa está no 127º lugar (no ranking das 500 maiores do mundo) em faturamento anual (US$ 15 bilhões), com um ativo real que não ultrapassa a casa dos US$ 11 bilhões. A General Motors, por exemplo, considerada a maior corporação industrial do mundo tem ativos de US$ 68 bilhões e faturamento anual de US$ 160 bilhões mas tem um valor de mercado que não vai além dos US$ 84 bilhões. Um ativo seis vezes maior, um faturamento mais de dez vezes superior e um valor cinco vezes menor. Como se explica isso?
Talvez a principal explicação esteja no domínio do mercado. 90% dos computadores do mundo dependem do sistema operacional Windows da Microsoft para funcionar. E não foi por acaso que isto aconteceu. A saga da Microsoft começa em 1975 quando Bill Gates, então com 19 anos, estudante da universidade de Harvard, funda a empresa em conjunto com o seu colega de faculdade Paul Allen e oferece à IBM uma linguagem para o computador pessoal que ela estava desenvolvendo (desde os 13 anos Bill Gates já programava). Daí para a frente, a história da Microsoft caminha paralela à história dos microcomputadores, destacando-se a extraordinária visão de marketing, muito mais do que de informática, de Bill Gates (talvez já possa ser considerado um dos maiores, se não o maior, homem de marketing do século). A Microsoft chegou ao ponto em que chegou porque conseguiu definir e manter com competência o padrão do seu setor, um setor de ponta na nova economia do conhecimento (onde os ativos físicos perdem em importância para os ativos intelectuais).
O curioso é que mesmo tendo atingido as dimensões econômicas que atingiu, a Microsoft está muito longe da tranqüilidade de ter seu lugar assegurado. Hoje, em função do domínio de mercado que conseguiu, está as voltas com a concorrência feroz de “tecnologias de ruptura” como é o caso da Sun Microsystems, com a linguagem Java e o sistema operacional Jini, ou do sistema Linux, tendo a Internet como campo de batalha. Sem falar no processo movido por 19 estados e pelo Departamento de Justiça dos EUA por práticas comerciais ilegais e de monopólio.
O caso Microsoft evidencia um traço da realidade empresarial do nosso tempo: não existe lugar assegurado e a conquista ou a manutenção das posições de mercado assumidas depende de apurado senso estratégico e de muito trabalho. O depoimento de Bill Gates não deixa margem a dúvidas.

“Minha principal preocupação é o meu trabalho na Microsoft, é 99% do que eu faço.”

Bill Gates, revista IstoÉ, 22.04.98

Todavia, isto não é visto pelo próprio Gates como uma fatalidade ou um estorvo. Pelo contrário, diz até que gosta. Talvez essa seja a outra parte da explicação pelo sucesso alcançado até agora…

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