A ameaça do petróleo

 
Na semana passada, o preço do barril de petróleo no mercado internacional, acompanhando uma tendência de instabilidade de semanas anteriores, oscilou chegando a US$ 37,20 (a cotação mais alta desde a Guerra do Golfo em 1990) e fechando, na sexta-feira 22.09.2000, em US$ 32,68, depois que os EUA, em plena campanha eleitoral, anunciaram que iriam utilizar sua reserva estratégica do produto para forçar a baixa dos preços. O preço do barril, considerado adequado pelos analistas, é US$ 26,00.
Esse assunto é tão importante para a economia brasileira e, por conseguinte, para as previsões de investimento das empresas que o Conjuntura & Tendências, apesar de ter anunciado para este número o desdobramento do tema abordado no número anterior (reuniões de trabalho) resolveu mudar a seqüência prevista.
Depois de muitos anos de previsões pessimistas, os analistas começam a identificar possibilidades concretas de crescimento sustentado da economia brasileira. Chegou-se ao ponto de prever para 2001 uma coisa inédita nos últimos 50 anos: a possibilidade de o crescimento do PIB (projetado pelo governo em 4,5%) ser superior à taxa oficial de crescimento prevista para a inflação (4%).
Aí, vem a alta do preço do petróleo e ameaça colocar água na fervura. Esse perigo é concreto? Segundo os analistas, a tendência a médio prazo (seis meses) é de ajuste dos preços para o patamar considerado razoável. Mas, na prática, não se sabe o que pode, de fato, acontecer. Se o preço se mantiver alto, ameaça o crescimento econômico mundial e, por tabela, o do Brasil.
É verdade que, em termos de vulnerabilidade frente a essa questão, o país mudou muito desde os dois choques anteriores do petróleo (em 73 e em 79). Naquele tempo, o Brasil importava mais de 70% do seu consumo. Hoje, a importação está próxima dos 30%. Mas, com metas de inflação tão estreitas, qualquer repasse inevitável dos aumentos do petróleo para seus derivados, os combustíveis, terão que ser compensadas com juros elevados que, por sua vez, reduzem forçosamente as taxas de crescimento. Não foi por acaso que o Banco Central não deu seqüência à queda dos juros e manteve a Selic (juros básicos) em 16,5% na reunião do Copom da semana passada.
Esse episódio do petróleo ressalta dois aspectos importantes. Em primeiro lugar, o quanto a economia brasileira ainda é suscetível a constrangimentos externos. Em poucos anos foi seriamente abalada pelas crises do México, da Ã?sia, da Rússia. Isso, sem falar das projetadas crises da Argentina e da queda do crescimento dos EUA. Em segundo lugar, o quanto é falho o sistema de previsão ou antecipação de crises. Até há alguns meses ninguém falava em crise de aumento dos preços do petróleo como não se falava, antes delas acontecerem, da possibilidade de nenhuma das crises citadas.Por isso, nesse campo, todo cuidado é pouco e toda sabedoria deve, humildemente, ser considerada limitada. Parece que quem está certo é mesmo Galbraith…

“… economia é um assunto muito complicado e difícil de entender. Se tudo dependesse dos juros e de Greenspan, então qualquer um seria PhD em economia.”

John Kenneth Galbraith, economista canadense, revista Dinheiro, 07.06.2000

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