No número anterior, por engano, Roland Barthes, autor da frase “profissional de talento é aquele que soma 2 pontos de esforço, 3 pontos de talento e 5 pontos de caráter“, foi qualificado como sociólogo francês. Barthes (1915-1980), na verdade, foi crítico literário e semiólogo, autor de livros como “O Sistema da Moda”, “O Prazer do Texto” e “Mitologias.” Formado em Letras Clássicas pela Sorbonne, exerceu forte influência sobre intelectuais de várias partes do mundo, tendo sido diretor da Escola Prática de Altos Estudos, da Universidade de Paris e pertencido ao Colégio de França, instituto que reúne os mais renomados sábios daquele país.
A errata, todavia, dá oportunidade para aprofundar mais um pouco o requisito Ética, apontado no número anterior (juntamente com Capacidade, Vontade, Disponibilidade e Confiança) como indispensável de ser considerado pelo gerente na árdua tarefa de escolher a pessoa certa para o lugar certo. Esse é um assunto que, embora esteja, entre nós, na ordem do dia por conta da sucessão de escândalos que têm acometido os governos no país, é tema permanente da preocupação de escritores e filósofos, alguns, inclusive, tratando a questão de forma peremptória.
“O talento se consegue no berço; o caráter, no tumulto da vida.”
Goethe, escritor alemão, 1749-1832, “Pequeno Manual de Qualidade de Vida”,José Ronaldo Peyroton, Editora United Press, Campinas, 1999
“O caráter é superior ao intelecto.”
Ralph Waldo Emerson, poeta e filósofo norte-americano, 1803-1882, “Pequeno Manual de Qualidade de Vida”, José Ronaldo Peyroton, Editora United Press, Campinas, 1999
De fato, todo gerente sabe como é difícil e aflitivo trabalhar com uma pessoa cuja ética seja duvidosa. Com uma pessoa em cujo caráter não possa confiar. Por isso, seu próprio exemplo é fundamental. Em termos gerenciais, como, aliás, em qualquer situação, essa história de “faça o que eu digo mas não faça o que eu faço”, não cola de jeito nenhum.
“Quando os que mandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito.”
Cardeal de Retz, político e escritor francês, 1614-1679, em “Pequeno Manual de Administração e Negócios – Frases Que Podem Mudar um Destino”, José Ronaldo Peyroton, Editora United Press, Campinas, 1998
Infelizmente no nosso país, por razões históricas, há uma “frouxidão” em relação a essa questão, muito maior do que o minimamente aceitável numa nação civilizada. Os relatórios internacionais apontam o Brasil como um dos países de maior “taxa” de corrupção do mundo. E o que é a corrupção senão uma conseqüência direta da falta de ética individual, gravemente potencializada pela impunidade, pela falta de justiça?
“… de tanto ver crescer a injustiça (…) o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”
Rui Barbosa, jurista e político baiano, 1849-1923, no discurso “Triunfo das Nulidades”, Senado Federal, RJ, Obras Completas, Fundação Casa de Rui Barbosa
Enfrentar essa questão, seja no plano individual seja no social, é uma tarefa de todos os que têm responsabilidade gerencial. No plano social, inclusive, as novidades são uma campanha em curso patrocinada pela Transparência Brasil (ver www.transparencia.org.br) e um código de ética do governo federal