Conjuntura

Olho na crise e no mercado

Antes da globalização, mercado e economia andavam juntos, porque a economia era vista como resultado do mercado. “Agora, a economia reage a movimentos globais e o mercado a movimentos locais.” Mário Cohen, presidente da Futura Propaganda, Folha de São Paulo, 17.11.97     Assentada um pouco a poeira, depois do último vendaval econômico que varreu a Ásia em outubro e abalou os alicerces do Real, podem ser observados os primeiros estragos. As reservas cambiais diminuiram mais de 13% na última semana do mês, com o Banco Central tendo que vender US$ 9,4 bilhões num único dia (o fatídico 28 de outubro). Além disso, o BC (de acordo com o JB de 21.11.97) precisou injetar, no período mais difícil da crise, R$ 13,3 bilhões no caixa dos bancos para evitar uma quebradeira generalizada.     Resultado: a cirurgia de emergência, com o bisturi dos juros altos, e a costura do pacote fiscal de US$ 20 bilhões, para evitar a infecção generalizada. Reflexos pós-operatórios na economia: desaceleração do crescimento, vida dura para as empresas e muitas dúvidas sobre 1998.     Além de torcer para que as medidas urgentes tenham sido suficientes, para que a Coréia (com o socorro do FMI) e o Japão (com seu PROER de US$ 64 bilhões) resistam e para que o susto tenha feito o governo federal acordar, as empresa precisam pensar, com muito cuidado, nos próximos passos que darão (não esquecer que o Ministro Malan disse no Congresso: “a crise veio para ficar porque o contexto internacional mudou para pior”).     Não há dúvidas de que a economia, como um todo, se a situação não piorar, estará mais para recessiva no primeiro semestre de 98. Mas é verdade, também, que o impacto não é linear para todo mundo. Uns sofrerão mais, outros terão abertas oportunidades que devem ser aproveitadas. As crises, já se falou disso à vontade, são bons momentos para ousar.     Por isso, é recomendável, por um lado, toda a prudência (para manter a saúde financeira equilibrada) e, por outro, toda atenção possível às oportunidades de crescimento e de ampliação dos negócios. A chave para isso é a análise exaustiva e atenta do mercado. Produtos, clientes e concorrentes devem ser foco cuidadoso da atenção quando se for decidir sobre o futuro. A crise não estancou o movimento acelerado de mudança dos mercados no país. Pelo contrário, em determinados segmentos deve, até, acelerar.     A lembrança do publicitário Mário Cohen é muito oportuna. A globalização da economia regionaliza a concorrência e “localiza”, mais ainda, o mercado. Por isso, neste final de ano turbulento, as decisões cruciais sobre 1998, sobretudo no que diz respeito a investimentos, devem ser duplamente balizadas: pelas limitações financeiras e pelas potencialidades do mercado.     Afinal, diante desses contratempos econômicos, é preciso atentar para a observação do escritor americano (autor do clássico “Moby Dick”), citado por Yara M. Fontana, herdeira da Sadia, no interessante livro “Como Fritar as Josefinas – a Mulher nos Bastidores da Empresa Familiar Brasileira”, Cultura Editores Associados, São Paulo, 1996 .  “Contratempos são como facas, que nos servem ou nos cortam, conforme as pegamos pelo cabo ou pela lâmina.” Herman Melville

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O mais duro teste do Real

“É como se você estivesse fazendo um piquenique num jardim e de repente descobrisse que vem vindo um furacão. Não dá para ficar parado esperando ele chegar.” Antônio Kandir, Ministro do Planejamento, revista Exame, 19.11.97     Depois de passar três anos pensando que estava num piquenique que ia durar oito, o governo, agora, está correndo assustado atrás do prejuízo.      Terá que fazer, em um ano (eleitoral), o que não fez em três. Do ponto de vista econômico, reduzir drasticamente o déficit externo e o déficit público, ajustando mais aceleradamente o câmbio e diminuindo a vulnerabilidade macroeconômica. Do ponto de vista político, aprovando as reformas que estão no Congresso e outras que terão que ser feitas.      O tumulto econômico asiático ainda pode produzir fortíssimos vendavais se a Coréia do Sul não resistir e quebrar, como prevêem alguns analistas.      Depois da elevação dos juros e do duro pacote fiscal (em grande parte uma “obturação”para permitir o fechamento do buraco que os juros altos provocarão nas contas públicas), o governo fez a lição de casa possível nesta altura do campeonato.      E, diga-se de passagem, fez o que devia ser feito, com dureza e impopularidade, dentro do calendário de um ano eleitoral, fato inédito na história recente do país. Isto mostra que é ruim de prevenção mas é bom bombeiro.      Resultado: forte impacto na economia. Em 98, segundo as análises atuais, o crescimento do país não passará de 1% (contra 3,5% estimado para 97). Volta a combinação amarga de juros estratosféricos e crescimento baixíssimo.      Não se deve ter qualquer ilusão quanto à nova realidade: o Plano Real está passando e passará durante todo o ano de 98, por seu mais duro teste. E todos sofrerão as conseqüências disto. Governo, pessoas e empresas.       Para as empresas, resta manter os cintos apertados porque, antes do furacão passar, os solavancos serão muitos. Da era do Real, 98 é o ano mais nebuloso e difícil de prever. É preciso muita cabeça fria, qualquer barbeiragem pode ser fatal. É possível que aumentem as falências e as concordatas.      Além de trabalhar duro, devemos torcer muito para que as medidas tomadas sejam suficientes. Caso contrário, para defender a estabilidade, virão outras, duríssimas e fortemente recessivas (por exemplo: outro aumento cavalar dos juros), antes de uma última e desesperada: a maxidesvalorização cambial. Se ela precisar ser realizada, será com altíssimos custos sociais.

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Não deu para esperar

“A crise revelou o que já se sabia. Que nós precisamos de medidas para diminuir a vulnerabilidade.” Presidente Fernando Henrique Cardoso, entrevista coletiva em 05.11.97     A pergunta que dá vontade de fazer ao Presidente, depois dessa afirmação, é só uma: e por que essas medidas não foram tomadas antes? Agora, na correria, a margem de manobra é mínima. Todo gestor sabe que, quando isto acontece, o perigo é companheiro da decisão.     O Governo estava apostando, irresponsavelmente, que o cenário de tranqüilidade externa se manteria até a eleição. Era o Cenário Argentino já tratado por Conjuntura & Tendências (“vamos empurrando com a barriga que depois da reeleição a gente vê o que dá para fazer”).     Não deu. A instabilidade externa que começou com a quebra dos tigres asiáticos e, agora, atinge as bolsas de valores do mundo inteiro, não dá sinais de que vai se acabar logo.     As bolsas de valores brasileiras estão sendo as mais atingidas do mundo porque todos sabem que as bases de sustentação do Plano Real são mais frágeis do que precisavam e poderiam ser. Há muito tempo não é segredo para ninguém que manter a inflação baixa à custa de déficits orçamentários altos, endividamento público (interno e externo) crescente e dependência excessiva de capitais externos voláteis, não ia terminar bem.      No meio empresarial, que credibilidade teria uma empresa que gasta mais do que recebe, compra mais do que vende, precisa leiloar os seus ativos para fazer caixa e usa as contas garantidas o tempo todo? Mais cedo ou mais tarde, os bancos exigirão liquidez para renovação dos empréstimos e o que acontece? Concordata ou falência, na certa.     Num contexto como esse, colocar a responsabilidade pela situação na falta de aprovação das reformas não convence. O próprio Presidente disse isso na entrevista coletiva do dia 05.11.97: “as reformas não resolvem, é o conjunto que resolve: aumentar a exportação, uma política mais austera, uma política monetária – que já tem sido austera – e a capacidade de atrair mais investimentos”.     Os acontecimentos recentes (continuação da queda nas bolsas) estão evidenciando que apenas a elevação cavalar dos juros mais altos do mundo (medida acertada para conter a hemorragia) não basta. As medidas fiscais (diminuição das despesas e aumento das receitas) serão duras, com o agravante de que as receitas já estão altas (a maior carga tributária da história do Brasil, cerca de 1/3 do PIB).     Esperemos que este susto pelo qual o país está passando permita, ao governo, sair da letargia e tomar as medidas necessárias à firme manutenção do Plano Real, fazendo a menor quantidade possível de “maldades” para aqueles que produzem.     As nuvens negras continuam no horizonte. 1998 não será um ano fácil. Para as empresas, recomendam-se manter “os cintos de segurança afivelados, o encosto da poltrona na posição vertical e as mesinhas travadas” porque a turbulência continua e o pessoal da cabine de comando está surpreendido pelas condições atmosféricas adversas. Esperava céu de brigadeiro e deu de cara com uma bruta tempestade.

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Ação e dificuldade de visão

    Os resultados da Pesquisa E&E – Ano 7, realizada pela TGI, promovida pelo Jornal do Commercio, patrocinada pelo SEBRAE-PE e pela CELPE e apoiada pelo IEL, pela AD-DIPER, pela FACEPE e pela UFPE – Departamento de Ciência Administrativas, apresentados ao público em 12.05.97, evidenciam, dentre outras, duas indicações importantes. A primeira, bastante positiva, é que as empresas pesquisadas (232 empresas instaladas em Pernambuco) afirmam majoritariamente, pela palavra de seus dirigentes, que estão avançando no enfrentamento da nova conjuntura econômica de estabilidade associada à globalização. A segunda, aliada a esta, é que não reconhecem igual comportamento nas demais empresas no Estado.     Esta dificuldade de ver o avanço dos outros parece estar fortemente relacionada a outra dificuldade, muito presente na amostra pesquisada, de ver as potencialidades e perspectivas de desenvolvimento do próprio Estado de Pernambuco.     Há, inclusive, uma confusão entre estagnação e perda de participação relativa da economia pernambucana no Nordeste. Pernambuco aumentou de 1970 a 1995 (segundo os dados da SUDENE para o período) sua participação no PIB do Brasil de 2,43% para 2,74%. Em 1996, esta tendência se mantêm com Pernambuco crescendo 3,3%, mais do que o Brasil com 2,9%, porém menos que o Nordeste com 4,1%. Portanto, não é possível dizer que esteja decadente ou estagnada. Apenas, está crescendo menos que outros estados da região, o que é natural dada à baixíssima participação deles no PIB do país, todas, a exceção da Bahia, menores que a de Pernambuco.     Uma impressão que dá ao se observar os resultados da Pesquisa é que não se fez ainda o luto completo da perda da imagem do “passado de glórias”. Ou seja, ao que parece não se conseguiu ainda o desligamento de um passado perdido e, com isso, desenvolver a capacidade de investir numa nova realidade. Pode-se, até, dizer que a imagem do “Leão do Norte” (asssociada à força e à combatividade) está se transformando num “fantasma” que, no final das contas, “assombra” a capacidade de avançar para um tipo de desenvolvimento diferente, que reconheça a existência de outros iguais e a necessidade de articular-se com eles para construir coisas novas.

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Reeleição e estabilidade

        No meio empresarial é praticamente unânime o apoio à reeleição do Presidente Fernando Henrique Cardoso.     Por mais que se saiba que a estabilidade não está consolidada sem as reformas estruturais (previdenciária, administrativa, fiscal, eleitoral, etc.) e que o Real está ancorado numa mistura a médio prazo explosiva de câmbio valorizado, juros altos e crescimento necessariamente baixo, o sentimento predominante é de alívio pela queda fantástica da inflação e por sua manutenção em níveis civilizados de um dígito anual.     Este sentimento foi o principal cabo eleitoral do Presidente e hoje ainda é o principal capital com que conta para a reeleição.     De certa forma, os pecados do primeiro mandato (desemprego alto, escancaramento da economia à concorrência internacional, juros insuportáveis, falta de políticas industrial e regional, CPMF, etc.) são absolvidos pela “tranquilidade” com os índices e com o fato de termos um dos presidentes intelectualmente mais preparados do mundo para a função.     Não há quem possa antecipar com segurança o que vai acontecer no curto prazo com a votação da emenda da reeleição; o jogo de interesses é muito grande. Afinal, são necessários 3/5 dos votos dos congressistas, em dois turnos e em votações separadas na Câmara e no Senado. Tudo isso em meio às articulações para a eleição das mesas das duas casas para os próximos dois anos.     O esforço para garantir a maioria é enorme e praticamente paralisa o governo. Se houver contratempos agora, ainda há o recurso do plebiscito e muita água rolará até que seja garantido o direito de reeleição.     Ao mesmo tempo em que a agenda política permanece congelada, praticamente todas as previsões econômicas sinalizam para um ano de 1997 muito semelhante a 1996, com a “estabilidade” preservada, mas, também, com a permanência inalterada dos fatores de deteriorização lenta e gradual da base de sustentação do Real (elevação do déficit da balança comercial, aumento da dívida pública interna e externa). Enquanto não for feito o ajuste fiscal definitivo (equilíbrio do orçamento público) que requer, entre outras coisas, a aprovação das reformas estruturais, este cenário tende a permanecer constante.     A única diferença entre o desdobramento do cenário econômico de 97 e o ocorrido em 96 é que o governo talvez seja obrigado a pisar no freio da economia no segundo trimestre (depois de esgotado o calendário que deseja cumprir da emenda da reeleição), visando recolocar os índices de crescimento no patamar “suportável” de 4% ao ano.     A estabilidade do Real, nas condições em que está ancorada, não suporta um crescimento da economia nos níveis atuais (mais de 6% ao ano) porque provoca aumento das importações (deterioração maior da balança comercial) e inflação de demanda (os níveis de utilização da indústria parecem ter chegado, no final do ano passado, acima de 85% da capacidade, próximo ao que aconteceu no Plano Cruzado).     Supondo que a releição fosse um produto, seria possível manter um argumento de venda até convincente: “uma das boas vantagens da reeleição é que ela garantirá mais tempo ao Presidente para fazer as reformas de que o país precisa para alcançar a estabilidade definitiva, o que proporcionará, sobretudo, tranquilidade para trabalhar, investir e crescer; e todo mundo precisa de tranquilidade para trabalhar, não é mesmo?”     É muito difícil responder não a este argumento. Prova disto é que a campanha pela reeleição, veiculada atualmente na televisão, está sendo paga com contribuições empresariais e de sindicatos de trabalhadores.     O sentimento predominante é o de que, na atual conjuntura, reeleição virou sinônimo de estabilização. Então, se a causa é boa e forem respeitadas as regras da democracia e da moralidade pública, que venha logo para diminuir os custos da espera.

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Construindo a competitividade

    As principais conclusões da Pesquisa Empresas & Empresários – Ano 6 (uma realização da TGI/Jornal do Commercio, com o patrocínio da Celpe e do Sebrae/PE e o apoio do Departamento de Ciências Administrativas da UFPE, do IEL-PE e da AD/DIPER), apresentadas segunda-feira, 15.04.96, ao público presente ao Mar Hotel, foram as seguintes:      Estas conclusões e as opiniões dos entrevistados sobre os passos que devem ser dados a seguir, embasaram a decisão de eleger para o Ano 7 da Pesquisa o tema CONSTRUINDO A COMPETITIVIDADE.     O que e como fazer para atacar o despreparo das empresas para a competitividade, apontado por 75% dos entrevistados no Ano 6? E como acelerar as ações impulsionadoras do desenvolvimento de Pernambuco?     Com estas questões introdutórias inicia-se o Ano 7…

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Balanço de 1995

    1995 não foi um ano fácil nem para o país, nem para as empresas. Para algumas, inclusive, foi um ano de grandes dificuldades. Entretanto, se se considera 95 como o ano 1 de um processo duradouro de estabilização, um balanço mais atento do desempenho do país evidencia alguns avanços importantes, ao mesmo tempo em que não pode deixar de ressaltar as dificuldades que persistem e precisam ser superadas.          A observação dos avanços e dificuldades enfrentados em 95 ressalta o tamanho dos desafios que o país tem pela frente. Para as empresas, diante deste quadro, os desafios não são menores. Preparar-se para sobreviver e crescer com austeridade de custos e adequação dos produtos a clientes cada vez mais exigentes e assediados pelos concorrentes é, sem dúvida, o maior deles.

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Futuro X Competitividade

    Na semana da pátria, dois acontecimentos chamaram a atenção sobre o futuro do país e a sua inserção competitiva no cenário internacional; o lançamento do plano plurianual (PPA), pelo Presidente, na Terça-feira 09.09.95 e a divulgação do Relatório de Competitividade Mundial, na Suíça, Quarta 06.09.95.     O PPA é o instrumento previsão no artigo 105 da Constituição que fixa as diretrizes e metas da administração pública federal para os investimentos e programas de longo prazo. O PPA do governo Fernando Henrique (1996-1999) é talvez o mais ambicioso plano de desenvolvimento nacional desde o Plano de Metas de JK e do PND do Presidente Gelsel, diferindo destes, no entanto, conforme o Ministro José Serra, porque “não se baseia na expansão do déficit publico.” O PPA transforma o programa do candidato FHC num plano que prevê uma ampliação de recursos em quatro anos que, segundo o próprio Presidente, chega a “quase R$ 900 bilhões” dos quais R$ 153 bilhões para novos investimentos. O PPA incorpora uma visão atualizada de desenvolvimento que prevê a substituição dos pólos setorizados pôr eixos regionais de desenvolvimento, dentre os quais inclui-se a Hidrovia São Francisco – Ferrovia Transnordestina, com o ramal Petrolina – Salgueiro – Suape de importância capital para o desenvolvimento de Pernambuco.     Por sua vez, o Relatório de Competitividade Mundial é uma publicação anual do Fórum Econômico Mundial e do Instituto Internacional para Gerenciamento do Desenvolvimento, baseados na Suíça. Na publicação deste ano, o Brasil figura em 37º no “ranking” que reúne 48 países. A classificação é feita com base em 378 itens, gerenciamento, ciência e tecnogia e recursos humanos.     Para as Empresas , em meio à conjuntura desafiadora em vivemos, tanto o lançamento do PPA quanto a publicação do relatório de competitividade fornecem elementos para pensar o futuro, com um olho na competitividade e outro no desenvolvimento do país e seus próprios.     Sintonizada com essas exigências da atualidade, a Pesquisa Empresas & Empresários 95-96 (Ano 6), a começar agora em setembro, elegeu o tema Pernambuco – Uma Visão de Futuro, abordando a Estratégia de Desenvolvimento do Estado e a Competitividade das Empresas em Pernambuco.”   Š

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Os juros altos e as empresas

    A conjuntura atual, com altas taxas de juros, tem significado aperto monetário para as empresas, sobretudo as que apresentam endividamento bancário. Esta situação tem origem na ancoragem do Plano Real. Até a crise do México/Argentina, a âncora do plano era o câmbio. A partir daí, passou a ser juros mais câmbio, com inibição do consumo.     Esta situação tem sido particularmente difícil para as empresas: queda das vendas; apertos sérios de liquidez; crédito escasso e caro: dificuldade de pagar fornecedores.     Isto não pode perdurar por muito tempo, sob pena de provocar, para as empresas, constrangimentos difíceis de transpor. Tanto é que o governo tem sinalizado para o segundo semestre com uma série de medidas que permitam o declínio gradual dos juros até o final do ano: desindexação; reforma da Constituição (apoiando a reorganização do Estado); volta dos investimentos externos (ajudando a balança de pagamentos); e acelerações das privatizações ( reduzindo o déficit-público).      Por isso, é preciso cada vez mais:

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A crise é de coordenação

     Fernando Henrique Cardoso foi eleito porque soube administrar, politicamente, de forma brilhante um programa econômico criativo e de extraordinária precisão técnica.     Pouco mais de 100 dias após iniciar o governo, enfrenta, talvez, a mais rápida regressão de expectativas da história republicana recente. Por que?     É verdade que a brusca mudança do cenário econômico mundial, com a quebra do México, contribuiu bastante para a deterioração das condições de suporte do Plano Real. Mas isso, por si só, não é suficiente para deixar o governo desordenado como está.     O fato é que o Presidente não conseguiu, ainda, desempenhar o seu papel de coordenador de uma equipe composta por bons valores individuais mas desprovida de quase total falta do que, na gíria futebolística, se chama de “conjunto.”     A primeira experiência administrativa de FHC foi o Itamarati, uma máquina formada por profissionais de carreira que funciona sozinha, com ou sem ministro. Além disso, comandou, com êxito absoluto, uma equipe econômica homogênea, formada por técnicos sem pretensões políticas ou compromissos outros que a fidelidade ao ministro que os convocou para a missão de executar uma estratégia técnico-política bem definida. Aí, teve êxito absoluto.     Agora, porém, à frente de um governo de coalisão, com uma equipe montada como se fora um quebra-cabeças político, esta experiência de coordenação é insuficiente.     É preciso desenvolver um esforço novo de coordenação que, em essência, não pode ser delegado a ninguém, por mais “pendor” gerencial que tenha o ministro da Casa Civil, no fim das contas apenas mais um entre pares. Neste aspecto, o descuido tem sido quase que completo. Basta lembrar que a primeira reunião da equipe só foi feita com duas semanas do governo iniciado, depois do tiroteio deflagrado…     Coordenar prá valer essa equipe politicamente heterogênea é tarefa que exige pulso firme, capacidade de diálogo, de convencimento, de negociação e de mediação de conflitos, tempo para dedicar a reuniões com todos os ministros ao mesmo tempo, convicção quanto à necessidade de mudar o país e disposição de construir compromissos da equipe com essas mudanças imprescindíveis.     Nada disso falta a FHC, muito pelo contrário. Falta, isto sim, colocar em prática com esta equipe o que, absolutamente, não tem sido feito até o momento.     FHC precisa mudar o foco de sua atenção, para a coordenação efetiva da equipe ministerial, até agora completamente solta. Ou faz a equipe fazer ou assiste, cada vez mais irado, o desmantelamento de uma possibilidade tão plena de esperança.

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