Economia

US$ 300 bilhões em 6 anos

“Esse país, feio, rico, pobre, lindo, qu’eu não sei pr’onde onde tá indo mas sei que chega lá.” Antônio Nóbrega e Wilson Freire, na música “Na Pancada do Ganzá”, do CD do mesmo nome     Luiz Fernando Levy, diretor-presidente da Gazeta Mercantil, no pronunciamento feito em João Pessoa, dia 19.09.97, durante a solenidade de homenagem aos líderes empresários da Paraíba, eleitos pelos assinantes do jornal no estado, a exemplo do que já havia feito na homenagem aos líderes pernambucanos em agosto passado, alertou para a grande mudança pela qual o país vai passar nos próximos seis anos quando estarão sendo investidos, de acordo com estimativas feitas pelo Gazeta, US$ 240 bilhões em projetos privados (com recursos principalmente externos) e US$ 56 bilhões no Programa Brasil em Ação do Governo Federal.     Na presença dos empresários homenageados (Diomedes Teixeira de Carvalho, PROSERV – Serviços, Peças e Veículos; Evaldo da Silva Brito, HA Brito; Francisco de Assis Costa, Supermercados Boa Esperança; José Carlos da Silva Junior, Grupo São Braz; e do representante de Roberto Cavalcante Ribeiro, Polyutil), e dos convidados, Levy foi enfático ao afirmar que o impacto das mudanças provocadas por esses investimentos “reprodutivos”, único na história do pais, vem vindo com uma rapidez impressionante. Estima que dentro de dois anos faltará mão de obra primária em várias partes do país.     Entende que o Brasil está saindo de um estilo de desenvolvimento unipolar (concentração de investimentos nas regiões Sul e Sudeste) para um outro onde predomina a multipolaridade, sendo todas as regiões contempladas, destacadamente o Nordeste. Segundo ele, “não há nenhum estado brasileiro onde não serão feitos investimentos de porte.”     Para ilustrar sua crença neste cenário citou o caso da própria Gazeta Mercantil cuja estratégia, ao contrário da grande imprensa nacional concentrada na região Sudeste, consiste na implantação, até 1998, de escritórios locais do Jornal em todas as 27 capitais estaduais, inclusive dos antigos territórios, com o objetivo de registrar os fatos regionais e fazer o jornal chegar mais cedo na mão do leitor. Chamou isso de “cruzada da democratização da informação econômica.” Anunciou, inclusive, o início da impressão da Gazeta em Recife, ainda este ano.     Não deixou de alertar, também, para o outro lado da moeda deste cenário de forte investimento: o agravamento do quadro social com o crescimento do grupo dos excluídos, formado pelos desempregados “qualificados”. Aqueles que perderam os empregos devido aos processos de modernização e melhoria da competitividade implantados pelas empresas e pelos esforços de equilíbrio orçamentário empreendidos pelo setor público. Estima que, só em São Paulo, o número das pessoas nesta condição já chega à casa de um milhão, o que tem incentivado, inclusive, a ampliação do Movimento dos Sem Terra.     Chamou a atenção de todos para a estrategicidade do momento que está sendo vivido hoje e para a importância da consciência da elite empresarial para as mudanças que terão que ser feitas no país e nas empresas, com destaque para o desenvolvimento do conceito de integração do Brasil na América do Sul. Conclamou todos a pensarem, do ponto de vista comercial, na “Nação Mercosul” e no grande mercado que representa (“Amercosul“). Lembrou que a importância desse mercado é tão grande que sofre o forte boicote dos Estados Unidos.     É preciso que os empresários estejam conscientes, preparem suas empresas e estejam prontos para apoiar e cobrar as medidas necessárias ao desenvolvimento social do país.  “Haverá um aumento fantástico da competitividade porque, junto com o dinheiro para investimento, vêm as empresas modernas.” Luiz Fernando Levy

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Um país muito diferente

      A crise provocada pelo aumento exponencial da insegurança pela qual estão passando, nos últimos dias, vários estados do país, particularmente algumas capitais e, mais particularmente ainda, a cidade do Recife, é uma evidência muito marcante de que já estamos vivendo num país muito diferente do qual estávamos acostumados.      Desde o início da década de 60 que não se via nada sequer parecido. O pânico instalado em todo canto. As lojas sem vender. O aumento dos assaltos. O clima de pré-histéria coletiva. Os arrastões, verdadeiros ou falsos. A onda nervosa dos boatos. A intranqüilidade para gerir os negócios. Uma visão antecipada e inquietante do que seria uma situação de caos social se as mudanças de que o país precisa não forem feitas a tempo.      Precisamos de uma economia estável e em crescimento. O suficiente para oferecer os empregos necessários e garantir a arrecadação de impostos que permita ao estado assegurar ao cidadão boa segurança, boa saúde e boa educação.      Precisamos desta tranqüilidade social para tocar os negócios, para enfrentar a concorrência, para inventar produtos novos e melhores, para prestar um serviço único aos clientes, para consolidar, desenvolver e fazer crescer a empresa, ajudando, com isso, a estabilização e o crescimento da economia, a oferta de empregos e o pagamento de impostos justos e necessários.      Muitas coisas estão sendo feitas para a instalação deste que se poderia chamar circulo virtuoso mas, é forçoso reconhecer, falta muito.      A tarefa de reformar um país como o Brasil e transformá-lo em algo muito diferente do que está acostumado a ser é uma tarefa gigantesca, a ser capitaneada por governos conseqüentes mas garantida pelo exercício firme e intransigente da cidadania democrática.      Na situação em que o país está (estabilidade econômica e social precária), tanto pode tomar o caminho virtuoso quanto resvalar para a barbárie (as “albânias” estão aí para servir de alerta). Assim como a democracia (destino inescapável de um país tão múltiplo), a estabilidade não está garantida. O que já foi feito nesta direção precisa ser cuidadosamente preservado, o que ainda não foi, terá que ser criteriosamente construído.      A responsabilidade daqueles que conduzem as empresas é dupla. Além da gestão eficaz dos negócios, a construção das condições sociais necessárias requer o exercício pleno do poder de influência dos empresários na sociedade em prol das mudanças indispensáveis. Requer uma postura de estadista para dentro e para fora da empresa.      Inclusive, para reconhecer que a atual crise da insegurança não é conjuntural. O país diferente e necessário terá que reformular o estado e, dentro dele, o modelo de segurança pública adotado até agora que, simplesmente, faliu. Como, aliás, muita coisa de que não nos damos conta, ainda.    Š

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A crise na Ásia e o Real

“A principal consequência negativa do Plano Real é deixar o país vulnerável aos ataques do capital especulativo.” Tânia Bacelar de Araújo, Jornal do Commercio, 17.07.97 “Com a crescente mobilidade internacional de capitais, moedas valorizadas e âncoras cambiais tornam-se cada vez mais difíceis de defender no médio prazo.” Paulo Nogueira Batista Jr., Folha de São Paulo, 17.07.97 “O buraco das contas externas brasileiras é insustentável a longo prazo. Seria preciso crescer 17,5% ao ano para manter estável o atual desequilíbrio externo, o que é obviamente impossível. Um ajuste, portanto, é inevitável.” Conclusão de estudo do banco americano JP Morgan, citado por Celso Pinto em sua coluna do Jornal do Brasil, 18.07 “O que dá ao Brasil uma garantia de travessia é a privatização. O programa vai sustentar um nível alto de reservas e, a curto prazo, é um fator forte de dissuasão de ataques especulativos ao Real.” Fernando Sampaio, economista do Banco Vetor, Gazeta Mercantil, 14.07.97     A forte oscilação das Bolsas de Valores brasileiras na semana passada deve ser entendida como um sinal de alerta sobre a estabilidade do Real, ainda que o governo diga o contrário.     É verdade que a maioria dos analistas concorda que a crise cambial dos novos tigres asiáticos (Tailândia, Malásia, Indonésia e Filipinas) serviu apenas de pretexto para a realização de lucros pelos grandes aplicadores das Bolsas brasileiras que acumularam ganhos de 93% no último semestre (segundo Joelmir Betting em sua coluna de 17.07.97).     Mas é preciso considerar, também, que há entre os modelos econômicos aplicados no Brasil e nos países do Sudeste Asiático em crise, na expressão do economista Paulo Nogueira Batista Jr., uma “semelhança desconfortável” (câmbio valorizado, deficit em conta corrente, dependência de ingresso de capitais externos para fechamento das contas, necessidade de reservas cambiais altas, etc).     As diferenças são que, como destaca Joelmir Betting, o nosso déficit em conta corrente é de 4% do PIB, contra 8% na Tailândia de hoje e 9% no México de ontem; o déficit brasileiro está sendo financiado por dois terços de capital produtivo e o da Tailândia e do México por dois terços de capital especulativo; na crise do México, as reservas cambiais brasileiras estavam abaixo de US$ 30 bilhões, hoje estão acima de US$ 56 bilhões, sem contar, ainda este ano, privatizações e incorporações; e, somadas, as quatro economias asiáticas (Tailândia, Filipinas, Malásia, Indonésia) não cobrem dois terços do PIB brasileiro.     Ao que parece, ainda temos algum tempo para não cair no inferno das débâcles cambiais. Mas não muito, com certeza.     Afinal, de acordo com estimativas do meio financeiro, existem US$ 250 bilhões em investimentos, girando ao redor do planeta por ano (cinco vezes mais que 1990), à espera de sinais de inconsistências macroeconômicas para irem de um canto a outro, rapidamente.

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Mais vendas e menos lucros

    A publicação dos resultados da pesquisa anual “Maiores e Melhores” da Revista Exame (julho/1997), dentre outras interessantes informações sobre o desempenho das 500 maiores empresas no Brasil, começa com esta constatação: “as principais angústias diagnosticadas pelo Brasil empresarial ao final de 1995 estão presentes e praticamente imutáveis na formação dos resultados das melhores e maiores empresas em 1996”.     De fato, do ponto de vista das condições macroeconômicas de sustentação do Plano Real, há praticamente dois anos que não se verificam mudanças significativas, o que configura uma situação que se poderia chamar de “estabilidade instável”, principalmente em se tratando do médio e longo prazos.     No que diz respeito, todavia, ao desempenho das empresas, a pesquisa aponta um resultado interessante: crescimento real de 4,8% nas vendas e queda de 4,2% nos lucros.     Essa situação aparentemente paradoxal parece apontar o seguinte: enquanto as condições macroeconômicas permanecem “estáveis”, pelo menos no curto prazo, está-se operando uma mudança importante no funcionamento das empresas, dadas as novas condições competitivas. Agora, é preciso produzir melhor, vender mais e contentar-se com ganhos menores.     Segundo José Roberto Mendonça de Barros, Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, na Folha de São Paulo de 30.06.97, quatro fatores podem ser apontados como responsáveis pelas mudanças no meio ambiente empresarial: 1. A Abertura que aumentou a grau de concorrência pelas importações. 2. A Globalização que deu novos contornos e condicionantes às estratégias empresariais. 3. A Estabilização que mudou a forma de operação das empresas. 4. A Privatização que mudou a lógica de organização de vários setores.     Para ele, “a junção desses fatores fez com que a estratégia vencedora de gestão patrimonial e financeira das empresas no tempo da inflação alta fosse justamente a mesma que assegura o fracasso agora. Antes, a boa gestão recomendava a imobilização (a sede em prédio próprio era uma forma de preservar o valor do dinheiro contra a inflação, por exemplo) e giro de capitais de terceiros. Agora, os juros reais elevados recomendam o oposto, desmobilização e dinheiro em caixa para escapar dos empréstimos.”     Em termos de gestão empresarial, muita coisa está mudando e, pelo andar da carruagem, muita coisa ainda vai mudar. O sucesso do passado tem sido, cada vez mais, mau conselheiro em relação ao futuro. Š

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Relembrando o fundamental

              De fato, pelo inegável sucesso que o Plano Real tem obtido até agora, no controle da inflação, o debate sobre que futuro tende, muito comumente, a resvalar para o campo de disputa entre os “a favor” e os “contra.”      É preciso não cair nessa armadilha e não perder de vista que, apesar do êxito inicial extraordinário, o programa de estabilização não tem um futuro tranqüilo. Uma boa maneira de repensar as dificuldades e as necessidades de ajuste de rumo ou mudança de rota é rever o que, do ponto de vista macroeconômico, pode ser considerado fundamental numa economia sólida e capaz de promover um crescimento sustentável.      Delfim Netto, em outro artigo na Folha de São Paulo de 23.04.97, relaciona o que, para ele, é fundamental para sustentar o crescimento econômico do país nos níveis de 6% a 7% ao ano, o mínimo necessário para dar emprego à força de trabalho que entra anualmente no mercado.                     A avaliação que ele faz depois de relacionar o que chama dos “fundamentais” é a seguinte: “Nossa taxa de inflação anual é um êxito, mas é ainda o dobro de nossos competidores asiáticos e o triplo de nossos parceiros desenvolvidos. Nossa taxa de juro real continua ‘escorchante’. Nossa política fiscal é deplorável (e o Presidente declara que não sabe o que fazer com ela!).       Nossa taxa de câmbio real está exageradamente sobrevalorizada. E nossa balança em conta corrente tem sustentabilidade duvidosa.”      Vê-se, por essas observações, que o caminho da estabilização é atribulado e, o que é ruim, o Governo Federal, enredado na teia embaraçosa da reeleição, parece não ter como poder avançar, tão cedo, nas correções de rumo necessárias. Resta, para as empresas, manter a cautela e aprofundar os investimentos no aperfeiçoamento da gestão, sem esperar facilidades externas.

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Ação e dificuldade de visão

    Os resultados da Pesquisa E&E – Ano 7, realizada pela TGI, promovida pelo Jornal do Commercio, patrocinada pelo SEBRAE-PE e pela CELPE e apoiada pelo IEL, pela AD-DIPER, pela FACEPE e pela UFPE – Departamento de Ciência Administrativas, apresentados ao público em 12.05.97, evidenciam, dentre outras, duas indicações importantes. A primeira, bastante positiva, é que as empresas pesquisadas (232 empresas instaladas em Pernambuco) afirmam majoritariamente, pela palavra de seus dirigentes, que estão avançando no enfrentamento da nova conjuntura econômica de estabilidade associada à globalização. A segunda, aliada a esta, é que não reconhecem igual comportamento nas demais empresas no Estado.     Esta dificuldade de ver o avanço dos outros parece estar fortemente relacionada a outra dificuldade, muito presente na amostra pesquisada, de ver as potencialidades e perspectivas de desenvolvimento do próprio Estado de Pernambuco.     Há, inclusive, uma confusão entre estagnação e perda de participação relativa da economia pernambucana no Nordeste. Pernambuco aumentou de 1970 a 1995 (segundo os dados da SUDENE para o período) sua participação no PIB do Brasil de 2,43% para 2,74%. Em 1996, esta tendência se mantêm com Pernambuco crescendo 3,3%, mais do que o Brasil com 2,9%, porém menos que o Nordeste com 4,1%. Portanto, não é possível dizer que esteja decadente ou estagnada. Apenas, está crescendo menos que outros estados da região, o que é natural dada à baixíssima participação deles no PIB do país, todas, a exceção da Bahia, menores que a de Pernambuco.     Uma impressão que dá ao se observar os resultados da Pesquisa é que não se fez ainda o luto completo da perda da imagem do “passado de glórias”. Ou seja, ao que parece não se conseguiu ainda o desligamento de um passado perdido e, com isso, desenvolver a capacidade de investir numa nova realidade. Pode-se, até, dizer que a imagem do “Leão do Norte” (asssociada à força e à combatividade) está se transformando num “fantasma” que, no final das contas, “assombra” a capacidade de avançar para um tipo de desenvolvimento diferente, que reconheça a existência de outros iguais e a necessidade de articular-se com eles para construir coisas novas.

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Nada de novo no front

        Coincidindo com o aniversário de três anos do lançamento da URV, tiro de largada do Plano Real, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP (Fipe) divulgou o seu índice de Preços ao Consumidor (IPC) do mês de fevereiro: 0,01%, o menor desde dezembro de 1958, quando a variação foi zero.     Também coincidindo com este aniversário, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do país em 1996: 2,91%, o que representou um crescimento 1,52% do PIB per capita (já que o crescimento populacional no ano foi de 1,36%).     Esses índices reforçam uma característica da economia na vigência do Plano Real: combinação de inflacão baixa com crescimento também baixo.     A esses dois componentes agrega-se um terceiro de potencial explosivo no médio prazo: déficit público alto e dívida pública crescente.     Estudo feito pelo professor Márcio Garcia da PUC-Rio, divulgado por Celso Pinto, em sua coluna de 09.03.97 no Jornal do Brasil, conclui que a inflação de 1996 teria sido de 113% se o governo tivesse querido financiar o déficit em suas contas (receitas-despesas), que foi de 3,9% do PIB, com a emissão da moeda, como era feito no passado, e não com o lançamento de títulos públicos, como se faz desde o início do Plano Real. A emissão de títulos públicos não produz diretamente inflação mas aumenta a dívida pública.      Daí, pode-se concluir que o que está financiando a inflação baixa é a divida alta. Desde a implantação do Plano Real, o estoque da dívida pública triplicou (Folha de São Paulo, 08.03.97)      “Só que não dá para aumentar a dívida indefinidamente: seu custo ficará tão alto que o mercado terá medo de financiá-la. Por esta razão, é impossível conciliar, durante muito tempo, déficits públicos com inflação baixa. Ou some o déficit ou volta a inflação” (Celso Pinto, citando o professor Márcio Garcia).     Para acabar com o déficit, a prescrição é clássica: aumentar receitas e diminuir despesas. Do lado das receitas, foi feito um extraordinário esforço de aumento da arrecadação que vem batendo recordes anuais sucessivos. Hoje, a carga tributária no Brasil (segundo estudo do grupo financeiro norte americano Goldman Sachs, divulgado na Folha de São Paulo de 08.03.97 ) já é a maior da América Latina: 33% do PIB. Do lado das despesas, o governo tem se defrontando com os inúmeros “ralos da República” (má utilização dos recursos públicos, fraudes da Previdência, máfia do orçamento, superfaturamento de obras etc.) e vem sendo surpreendido pelos “esqueletos encontrados no armário” (desequilíbrio atuarial da Previdência, dívidas dos estados, rombo do fundo de variações salariais do Sistema Financeiro da Habitação, alto estoque de moedas pobres etc). Não é fácil.     Nada disso, no entanto, é novo. Todos os ingredientes estão em cena desde o início do Plano Real. Não há receitas mágicas para resolver, a não ser muito trabalho. O objetivo desejado da estabilização duradoura, inflação baixa com crescimento alto e melhor distribuição de renda, ainda é um alvo distante, embora alcançável.     Para as empresas, o reforço da constatação : continuar trabalhando sem descanso na melhoria da qualidade dos produtos, no enxugamento dos custos, no aperfeiçoameto da gestão, no encurtamento da distância com os clientes, no acompanhamento atento dos passos da concorrência, no esforço de continuamente procurar superar suas próprias performances. E, também, não esperar facilidades macroeconômicas por que elas não virão tão cedo.

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Reeleição e estabilidade

        No meio empresarial é praticamente unânime o apoio à reeleição do Presidente Fernando Henrique Cardoso.     Por mais que se saiba que a estabilidade não está consolidada sem as reformas estruturais (previdenciária, administrativa, fiscal, eleitoral, etc.) e que o Real está ancorado numa mistura a médio prazo explosiva de câmbio valorizado, juros altos e crescimento necessariamente baixo, o sentimento predominante é de alívio pela queda fantástica da inflação e por sua manutenção em níveis civilizados de um dígito anual.     Este sentimento foi o principal cabo eleitoral do Presidente e hoje ainda é o principal capital com que conta para a reeleição.     De certa forma, os pecados do primeiro mandato (desemprego alto, escancaramento da economia à concorrência internacional, juros insuportáveis, falta de políticas industrial e regional, CPMF, etc.) são absolvidos pela “tranquilidade” com os índices e com o fato de termos um dos presidentes intelectualmente mais preparados do mundo para a função.     Não há quem possa antecipar com segurança o que vai acontecer no curto prazo com a votação da emenda da reeleição; o jogo de interesses é muito grande. Afinal, são necessários 3/5 dos votos dos congressistas, em dois turnos e em votações separadas na Câmara e no Senado. Tudo isso em meio às articulações para a eleição das mesas das duas casas para os próximos dois anos.     O esforço para garantir a maioria é enorme e praticamente paralisa o governo. Se houver contratempos agora, ainda há o recurso do plebiscito e muita água rolará até que seja garantido o direito de reeleição.     Ao mesmo tempo em que a agenda política permanece congelada, praticamente todas as previsões econômicas sinalizam para um ano de 1997 muito semelhante a 1996, com a “estabilidade” preservada, mas, também, com a permanência inalterada dos fatores de deteriorização lenta e gradual da base de sustentação do Real (elevação do déficit da balança comercial, aumento da dívida pública interna e externa). Enquanto não for feito o ajuste fiscal definitivo (equilíbrio do orçamento público) que requer, entre outras coisas, a aprovação das reformas estruturais, este cenário tende a permanecer constante.     A única diferença entre o desdobramento do cenário econômico de 97 e o ocorrido em 96 é que o governo talvez seja obrigado a pisar no freio da economia no segundo trimestre (depois de esgotado o calendário que deseja cumprir da emenda da reeleição), visando recolocar os índices de crescimento no patamar “suportável” de 4% ao ano.     A estabilidade do Real, nas condições em que está ancorada, não suporta um crescimento da economia nos níveis atuais (mais de 6% ao ano) porque provoca aumento das importações (deterioração maior da balança comercial) e inflação de demanda (os níveis de utilização da indústria parecem ter chegado, no final do ano passado, acima de 85% da capacidade, próximo ao que aconteceu no Plano Cruzado).     Supondo que a releição fosse um produto, seria possível manter um argumento de venda até convincente: “uma das boas vantagens da reeleição é que ela garantirá mais tempo ao Presidente para fazer as reformas de que o país precisa para alcançar a estabilidade definitiva, o que proporcionará, sobretudo, tranquilidade para trabalhar, investir e crescer; e todo mundo precisa de tranquilidade para trabalhar, não é mesmo?”     É muito difícil responder não a este argumento. Prova disto é que a campanha pela reeleição, veiculada atualmente na televisão, está sendo paga com contribuições empresariais e de sindicatos de trabalhadores.     O sentimento predominante é o de que, na atual conjuntura, reeleição virou sinônimo de estabilização. Então, se a causa é boa e forem respeitadas as regras da democracia e da moralidade pública, que venha logo para diminuir os custos da espera.

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Boas Expectativas para 97

    De acordo com a opinião dos empresários entrevistados pela Pesquisa Empresa & Empresários – Ano 7 sobre as expectativas para o próximo ano, 1997 será melhor tanto para as empresas quanto para o país.     É interessante notar que a expectativa em relação às empresas é melhor que em relação ao país. Isto parece indicar a disposição de investir na melhoria do desempenho empresarial, como aliás já se vem fazendo há alguns anos.     Começaram a ser visíveis os frutos desse investimento, crescendo a disposição de investir mais.     A equipe TGI, completamente engajada no esforço de aperfeiçoamento constante da gestão empresarial, utiliza esse espaço do último fax-paper de 96 para solidarizar-se com essas expectativas e para desejar aos seus clientes, amigos e parceiros que 97 seja mais um ano de avanço na estabilidade econômica, na justiça social, no reforço da capacidade empreendedora e no desenvolvimento, custoso mas merecido, desse grande país e de suas corajosas empresas.

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A receita de Washington

    A cidade de Washington, por ser a capital dos EUA, é também o centro mundial das preocupações com os rumos do capitalismo e com a saúde das finanças internacionais. Não é por acaso que lá estão instaladas as sedes do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial (BIRD) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), além de outras instituições do tipo.     Em 1989, John Willianson, economista do Institute of International Economics de Washington, redigiu um documento contendo dez princípios que, segundo ele próprio, procuravam sintetizar “o mínimo denominador comum” do que julgava fosse aceitável por todos em Washington sobre os rumos do ajustamento das economias latino-americanas (Folha de São Paulo, 08.10.96). Esse decálogo ficou conhecido como o “Consenso de Washington”. Desde então, o Consenso vem sendo acusado de ser os dez mandamentos do neo-liberalismo na América Latina.     O fato é que, passados seis anos do lançamento do manifesto e mais de dez de história dos planos de estabilização na América Latina, Willianson redigiu uma nova versão e apresentou num seminário do BID no início de setembro passado.      Independente de se gostar ou não do fato de instituições de Washington ficarem mandando recados e recomendando receitas para os outros, é interessante notar a mudança de conteúdo da versão antiga para a atual. Enquanto em 89 a ênfase era na estabilização da economia, hoje parece ser na governabilidade pós-estabilização. O recado parece ser este: não adianta só estabilizar, é preciso garantir as condições para a continuidade. É justamente essa, a principal crítica que se faz, hoje, ao processo brasileiro.     Merece especial destaque o item 10. O problema da educação no Brasil é tão gigantesco que a própria Confederação Nacional da Indústria (CNI) acaba de fazer chegar ao Governo Federal o documento “Competitividade: Proposta dos Empresários para a Melhoria da Qualidade da Educação”, onde propõe que as empresas desenvolvam processos de educação continuada que incluam tanto a educação básica, quanto a profissional e a superior. Mas, isso já é assunto para outro Conjuntura & Tendências.

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