A espinha dorsal do estado
Os indicadores disponíveis sobre o desempenho da economia de Pernambuco nas últimas três décadas não indicam estagnação ou decadência (ver a respeito no Conjuntura & Tendências número 90). Sinalizam, isto sim, um processo de transição de grande importância para o futuro do estado. Setores tradicionais como o da agroindústria da cana-de-açúcar e o têxtil, por exemplo, estão perdendo espaço para outros mais dinâmicos como o da fruticultura irrigada e o da prestação de serviços especializados. Uma das características mais marcantes deste processo de mudança é a que evidencia a consolidação de dois pólos extremos de dinamismo na geografia do estado. No litoral, a Região Metropolitana do Recife, a Zona da Mata e o Complexo-Industrial Portuário de Suape. No extremo oeste, Petrolina que polariza toda a ampla região irrigada do médio São Francisco, uma das de maior potencial produtivo do Brasil. Garantir a articulação desses dois pólos extremos por intermédio de um eixo estratégico de desenvolvimento é uma das questões mais relevantes de Pernambuco no horizonte do próximo século. A linha principal deste eixo, verdadeira espinha dorsal vertebradora do espaço geográfico do estado, é a Ferrovia Transnordestina cujo trecho Petrolina-Salgueiro, de 236 quilômetros (pontilhado na ilustração abaixo) está com sua construção interrompida desde 1991. O trecho Salgueiro-Recife, de 600 quilômetros encontra-se em estado de conservação ruim. Esta ferrovia é parte fundamental do corredor multimodal de transporte de 2.357 quilômetros que vai de Pirapora, em Minas Gerais, pela hidrovia do São Francisco, até Petrolina e, daí, por trilhos, até o Porto de Suape, barateando os custos de frete e tornando mais competitivos os produtos transportados. Segundo dados da Secretaria da Infraestrutura de Pernambuco, com R$ 1,00 por tonelada percorrem-se 24 quilômetros por rodovia, 107 quilômetros por ferrovia e 530 quilômetros por hidrovia. De acordo com estimativas feitas, a plena operação deste complexo viário seria responsável pelo barateamento de 35% a 40% no preço do frete dos produtos transportados, beneficiando a fruticultura, o gesso do Araripe, o granito do Agreste, o milho para a avicultura e uma infinidade de produtos consumidos ou produzidos no interior do estado. Apesar da importância capital que tem para o futuro de Pernambuco, todavia, a implantação deste eixo estratégico encontra-se, no presente, cercada de incertezas. A mais inquietante delas, no momento, diz respeito à privatização da chamada Malha Nordeste da Rede Ferroviária Federal, da qual o trecho pernambucano é parte integrante. Até o final de 1996, estará com a operação privatizada pelo regime de concessão de exploração toda a rede ferroviária do país, a excessão da Malha Nordeste que deve ser transferida em 1997. Não se sabe ainda em que condições. Há a idéia de licitar a conclusão do trecho Petrolina-Salgueiro, com recursos privados, em troca do direito de exploração por 30 anos. A boa notícia é que o Governo Estadual firmou acordo com o Governo Federal para recuperação parcial do trecho Salgueiro-Recife e já está transportando por trem materiais da Celpe e da Compesa para o interior. Discutir questões como esta e viabilizar soluções que contemplem as necessidades estratégicas do estado é condição essencial para um futuro viável. Debater e disseminar o conceito formulado pelo vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Paulo Gustavo Cunha, do Pernambuco Século XXI, nos dias de hoje, é fator-chave para a construção da competitividade do estado e de suas empresas.
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