Economia

Com a sobriedade necessária

O desenrolar dos recentes acontecimentos no Sistema Financeiro permite concluir que se não fosse a imperiosa necessidade de estancar a sangria do Banco Econômico (que atingiu mais de R$ 3 bilhões), o Banco Mercantil não teria sofrido intervenção do Banco Central, uma vez que vinham sendo feitas negociações e buscadas outras soluções para as dificuldades existentes, sem que fosse preciso chegar a este extremo. As duas realidades são completamente diferentes e querer tratar como se fosse uma coisa só não ajuda a resolver o problema enfrentado pelo Banco Mercantil, pelo Estado de Pernambuco e pelos correntistas particulares e empresas que estão passando por difíceis situações de caixa, algumas dramáticas. Na adversidade, as lideranças políticas e empresariais de Pernambuco estão, mais uma vez, evidenciando que o Estado não só mudou como o está fazendo na direção mais adequada às exigências atuais. Do Governador Miguel Arraes ao Vice-Presidente Marco Maciel, passando pelas lideranças políticas da situação e da oposição; dos acionistas do Banco Mercantil às lideranças empresariais, passando pelos correntistas atingidos; tem-se procurado negociar soluções com a sobriedade que a gravidade da situação permite, sem gritarias, bravatas, chantagens ou jogos de cena. Esta é uma marca de Pernambuco: discrição para tratar seus problemas e pensar suas soluções. E, desde que não se misture à timidez, isto não é mau. Pelo contrário, é imperioso transformar esta característica cultural em vantagem competitiva do Estado, aliando-a à seriedade, à competência e à articulação, para além dos partidarismos.  É uma pena que isto fique evidente em situação tão adversa, que torna difícil perceber a nitidez dos avanços. Temos um mundo novo pela frente, um estado inteiro por construir e um patrimônio de Pernambuco por resgatar. Não levantaremos a intervenção do Mercantil nem reverteremos o quadro de declínio econômico do Estado sem que haja articulação efetiva, seriedade e disposição empreendedora em torno dos interesses de Pernambuco. Não é fácil nem será rápido, mas tem que ser com sobriedade e sem estrelismos. 

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Boa provocação, presidente!

    Veio em boa hora a provocação feita pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso ao dizer que Pernambuco estava precisando de uma “reengenharia” econômica. Na verdade, ele ampliou uma outra provocação feita pelo Ministro José Serra ao Governador Miguel Arraes pedindo um “projeto de grande porte” para o Estado.     Hoje, Pernambuco já reúne os requisitos essenciais para elaborar este projeto. Empresários, políticos e a sociedade civil organizada não só estão conscientes da necessidade, como vêm desenvolvendo ações concretas neste sentido.     O Movimento Empresarial Pró-Pernambuco (MEPPE), a Pernambuco S/A, o Fórum Pernambuco em 1º Lugar, a Agenda Pró-Pernambuco, o Movimento Pró-Refinaria em Pernambuco, a Pesquisa Empresas & Empresários, o Projeto Pernambuco 2010 são expressões concretas de uma mobilização que vem quebrando radicalismos e paradigmas econômicos, políticos e sociais, até há pouco tempo vigentes no Estado.     Mas isso só não basta, já está no tempo de montar um Projeto Estratégico para o Desenvolvimento do Estado. Neste sentido, as provocações do Ministro e do Presidente são mais do que oportunas para acelerar o processo.     É preciso, entretanto, não esquecer que isto não é uma tarefa simples. Pernambuco tem um tecido econômico, social e político complexo, de mais de 460 anos de idade e não cabem abordagens apressadas ou comparações simplistas com a realidade de outros Estados. Temos que inventar o nosso futuro com criatividade e com o mínimo possível de preconceitos. Capacidade, já desenvolvemos de sobra.     Por nossa realidade ser particularmente densa e a problemática necessariamente complexa, talvez as soluções e a retomada do crescimento do Estado demorem um pouco. Entretanto, quando o ciclo for retomado, muito provavelmente o será de modo consistente e duradouro.

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Nada do que foi será…

    Talvez o governo tenha pisado fundo demais no freio do crédito para diminuir o ritmo do crescimento da ecônomia e seja obrigado a aliviar um pouco, como já vem fazendo.     Mas, uma coisa é certa, acabou o tempo das margens muito grandes.     Algumas empresas não estão se apercebendo de que estamos entrando numa fase muito exigente, que requer mais do que redobrada atenção. O gráfico abaixo é ilustrativo desta situação.     Segundo Stephen Kanitz, o coordenador da publicação Maiores e Melhores da Revista Exame, daqui pra frente temos que nos preocupar muito mais em fazer empresas do que apenas negócios.     Este “fazer empresas” significa, principalmente, cuidar da gestão: administrar custos, qualidade, produtividade e desenvolver equipes competentes, buscando consolidar vantagens comparativas.     Neste tempo de ajustamento, são vantagens comparativas para as empresas:      1. Preço Competitivo (o que significa custos enxutos, mínimo de gorduras, saúde financeira).      2. Qualidade Reconhecida (o que significa produtos bem aceitos e imagem respeitada).      3. Atendimento Diferenciado (conhecimento sistemático da opinião dos clientes e atenção redobrada nas suas necessidades, manifestas ou não). Š

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A hora da nominalização

    O Plano Real chega a um ano de vida como o mais bem sucedido da série de 6 planos de estabilização iniciada com o Plano Cruzado em 1986.     Foi muito bem sucedido na redução da inflação e no crescimento da economia. Está sendo mal sucedido no balanço de pagamentos.     Pode não parecer, à primeira vista, mas é mais fácil baixar a inflação de 50% para 2% ao mês do que de 2% para próximo de 0%, como é necessário para a estabilização e o crescimento sustentado.     Fazer isto demandará, na expressão do ministro José Serra, “uma luta prolongada que requer não apenas um ano de trabalho, mas vários.”Há, ainda, muito o que fazer.     O segundo ano desta série inicia-se com mais um passo que o ministro Malan chamou de nominalização da economia. Ou seja, esquecer os índices e substituí-los pelos valores nominais (em real ). A nova Medida Provisória trabalha neste sentido: apagar a memória inflacionária.     Para as empresas, isto significa deixar de lado os índices de reajuste (automáticos e genéricos) e trabalhar tendo os custos reais como parâmetros essenciais de suas decisões e negociações.     O segundo ano do Real inaugura um tempo muitíssimo mais exigente para as empresas. Um tempo para quem conseguir ter custos compatíveis com uma nova realidade de mercado que, ao contrário do que se possa pensar, não é conjuntural e sim tendencial.

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Os juros altos e as empresas

    A conjuntura atual, com altas taxas de juros, tem significado aperto monetário para as empresas, sobretudo as que apresentam endividamento bancário. Esta situação tem origem na ancoragem do Plano Real. Até a crise do México/Argentina, a âncora do plano era o câmbio. A partir daí, passou a ser juros mais câmbio, com inibição do consumo.     Esta situação tem sido particularmente difícil para as empresas: queda das vendas; apertos sérios de liquidez; crédito escasso e caro: dificuldade de pagar fornecedores.     Isto não pode perdurar por muito tempo, sob pena de provocar, para as empresas, constrangimentos difíceis de transpor. Tanto é que o governo tem sinalizado para o segundo semestre com uma série de medidas que permitam o declínio gradual dos juros até o final do ano: desindexação; reforma da Constituição (apoiando a reorganização do Estado); volta dos investimentos externos (ajudando a balança de pagamentos); e acelerações das privatizações ( reduzindo o déficit-público).      Por isso, é preciso cada vez mais:

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A nova roupagem constitucional

    O alfaiate político que recortou a Constituição de 88 fez uma roupa que parece não se adequar bem às necessidades de mobilidade e crescimento do país.     O novo Governo e o novo Congresso, depois de um desencontro inicial, começam, ao que indicam as evidências, a chegar a um acordo sobre o que é possível mudar e como adequar a vestimenta constitucional ao corpo da nação.     Até o momento, as comissões especiais do Congresso, destinadas a examinar preliminarmente os projetos, têm aprovado as propostas do Governo.     Entretanto, a verdadeira batalha será no plenário da Câmara e do Senado (até setembro ou outubro), com a exigência de dois turnos de votação e maioria de 60% dos votos.     Para o ambiente empresarial e para as empresas em particular, essas mudanças, se se confirmarem, podem significar, a médio prazo, maiores oportunidades de negócios (pela flexibilização dos monopólios), simplificação da burocracia fiscal e aumento da concorrência empresarial, demandando das empresas maior capacidade competitiva e maior eficiência na gestão.

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   O governo enfrenta, hoje, no campo da economia, três problemas importantes:     Do lado fiscal, a falta de coordenação do presidente FHC atrasou as reformas tributária e previdenciária, e o programa de privatização, contribuindo para não reduzir a despesa pública (governo e estatais).     Do lado comercial, a mudança de câmbio e o estímulo fiscal às exportações deram condições de equilíbrio temporário à balança comercial.     Do lado do consumo, o conflito entre comerciante/consumidor, de uma parte, e o governo, de outra parte, está sendo apenas parcialmente tratado.     O consumo é uma moeda cuja outra face é a produção. Oferta de um lado, demanda do outro. Não adianta só frear a demanda (cumprindo uma tática econômica); é preciso também aumentar a oferta (formulando a visão estratégica da economia).     O aumento da oferta foi incentivado pelo governo com as importações: mas elas estão, agora, limitadas pela balança comercial. Qual o outro caminho? O apoio planejado à produção. E como fazê-lo? Através da definição clara de políticas públicas, orientando as empresas na direção das prioridades da indústria, do comércio, da agropecuária e do turismo. E através da explicitação de mecanismos de financiamento de longo prazo, via BNDES.     De qualquer modo, as vitórias políticas do governo, semana passada, no Congresso, parecem sinalizar para um cenário mais favorável, daqui prá frente.     Em maio/junho/julho, a inflação deve continuar sob controle (2% mensais): o câmbio não deve ultrapassar a paridade entre real/dólar; e o consumo deve-se manter estável. Mas o governo tem que praticar políticas de desenvolvimento setoriais e regionais (e o Nordeste?). Não dá prá ficar só apagando incêndio.

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A crise é de coordenação

     Fernando Henrique Cardoso foi eleito porque soube administrar, politicamente, de forma brilhante um programa econômico criativo e de extraordinária precisão técnica.     Pouco mais de 100 dias após iniciar o governo, enfrenta, talvez, a mais rápida regressão de expectativas da história republicana recente. Por que?     É verdade que a brusca mudança do cenário econômico mundial, com a quebra do México, contribuiu bastante para a deterioração das condições de suporte do Plano Real. Mas isso, por si só, não é suficiente para deixar o governo desordenado como está.     O fato é que o Presidente não conseguiu, ainda, desempenhar o seu papel de coordenador de uma equipe composta por bons valores individuais mas desprovida de quase total falta do que, na gíria futebolística, se chama de “conjunto.”     A primeira experiência administrativa de FHC foi o Itamarati, uma máquina formada por profissionais de carreira que funciona sozinha, com ou sem ministro. Além disso, comandou, com êxito absoluto, uma equipe econômica homogênea, formada por técnicos sem pretensões políticas ou compromissos outros que a fidelidade ao ministro que os convocou para a missão de executar uma estratégia técnico-política bem definida. Aí, teve êxito absoluto.     Agora, porém, à frente de um governo de coalisão, com uma equipe montada como se fora um quebra-cabeças político, esta experiência de coordenação é insuficiente.     É preciso desenvolver um esforço novo de coordenação que, em essência, não pode ser delegado a ninguém, por mais “pendor” gerencial que tenha o ministro da Casa Civil, no fim das contas apenas mais um entre pares. Neste aspecto, o descuido tem sido quase que completo. Basta lembrar que a primeira reunião da equipe só foi feita com duas semanas do governo iniciado, depois do tiroteio deflagrado…     Coordenar prá valer essa equipe politicamente heterogênea é tarefa que exige pulso firme, capacidade de diálogo, de convencimento, de negociação e de mediação de conflitos, tempo para dedicar a reuniões com todos os ministros ao mesmo tempo, convicção quanto à necessidade de mudar o país e disposição de construir compromissos da equipe com essas mudanças imprescindíveis.     Nada disso falta a FHC, muito pelo contrário. Falta, isto sim, colocar em prática com esta equipe o que, absolutamente, não tem sido feito até o momento.     FHC precisa mudar o foco de sua atenção, para a coordenação efetiva da equipe ministerial, até agora completamente solta. Ou faz a equipe fazer ou assiste, cada vez mais irado, o desmantelamento de uma possibilidade tão plena de esperança.

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Não engrossar a crise

    AS FALHAS NA GESTÃO POLÍTICA DE FHC     FHC está pagando o preço da falta de coordenação e de liderança: não quis bancar as reformas (que o país precisa) com o Congresso que saía (em janeiro), nem com o Congresso que entrava (em fevereiro), quando, presidente recém-empossado, estava na plenitude do poder. Resultado: perdeu o timing. Adiou a reforma tributária para 96; está adiando a reforma previdenciária, não acelera o ritmo das privatizações; se enrola com a reforma do Estado. Com isso, “embolou o meio de campo” e reduziu seu tamanho político.     HÁ QUEM APOSTE NA CRISE     Quem conhece as deficiências políticas de FHC não precisa necessariamente investir na crise. Porque isto significa trabalhar contra o País. Mas tem quem o faça: os especuladores e os ineficientes. Os especuladores investem na crise porque o ambiente de tensão econômica e social favorece os movimentos especulativos. E os ineficientes investem na crise porque os ganhos, no ambiente inflacionário, apenas aparentemente dispensam os ganhos de eficiência. Eficiência dá trabalho, muito trabalho.     O QUE É PRECISO FAZER     A atual conjuntura política e econômica, para o observador isento mas comprometido com o país, admite duas considerações. Primeira: a atitude de não engrossar a voz dos que exercem a crítica vã que pode esconder propósitos de especulação e ineficiência. Segunda: a ação de trabalhar na linha da modernização e da eficiência empresarial, com consciência de compartilhar os destinos coletivos de uma Nação, porque os gestores econômicos do Governo ainda dispõem de recursos objetivos para controlar a economia e colocar o país no rumo do desenvolvimento sustentado.

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Kanitz e o PIB de Pernambuco

     No dia 06.03.93, no Mar Hotel, numa promoção do JORNAL DO COMMERCIO, patrocínio do BANDEPE, apoio do MEPPE e da TGI, o consultor da Revista Exame STEPHEN KANITZ fez uma conferência sobre o tema “O BRASIL QUE DÁ CERTO – NOVO CICLO DE CRESCIMENTO 1992 – 2005.” (Ver resumo no box abaixo).      Na ocasião, disse (e repetiu em artigo publicado no JC de 09.03.93) que havia perguntado, em almoço com empresários pernambucanos, qual o PIB do Estado em 1994 e havia recebido respostas que variavam de US$ 10 bilhões a US$ 22 bilhões. Daí, concluía que se não sabemos ao certo o PIB atual, não podemos ter metas de crescimento para os próximos 10 anos.      Trata-se, evidentemente, de uma conclusão infeliz. Em primeiro lugar, porque existe, de fato, uma controvérsia metodológica sobre o cálculo do PIB de 1994 (ainda estimado, uma vez que não apurado oficialmente).      De acordo com a Gazeta Mercantil de 02.03.95, a valores em dólares de 1980, tendo por fontes PEE/EBAP/FGV o PIB de Pernambuco, em 1994, é de US$ 10.243 bilhões (2,6% do PIB do Brasil e 21% do PIB do Nordeste). Se for considerada a inflação americana no período 1980-1994 este valor aproxima-se da casa dos US$ 20 bilhões. Não há, portanto, tanta incoerência assim entre os números apontados…      Em segundo lugar, talvez Kanitz não saiba, mas nos últimos anos cresceu como nunca a discussão no meio empresarial sobre o futuro de Pernambuco, a ponto de, numa iniciativa inédita no Brasil, ter sido formulada a AGENDA PRÓ PERNAMBUCO, versão 1994.      De qualquer forma, a provocação de Kanitz deve ser usada para ajudar a acelerar essas discussões e avançar na definição de rumos cada vez mais consistentes para o nosso futuro.      Afinal de contas, como ele próprio enfatizou na conferência, à boa notícia de que o Brasil vai crescer nos próximos 10 anos junta-se a uma má: a concorrência vai estar como nunca. A respeito da economia do Estado acrescentou: em 2005, se as coisas continuarem como estão, os chineses vão acabar com a indústria de Pernambuco. Segundo ele, temos 10 anos para mudar.          De acordo com a Gazeta Mercantil de 02.03.95, a valores em dólares de 1980, tendo por fontes PEE/EBAP/FGV o PIB de Pernambuco, em 1994, é de US$ 10.243 bilhões (2,6% do PIB do Brasil e 21% do PIB do Nordeste). Se for considerada a inflação americana no período 1980-1994 este valor aproxima-se da casa dos US$ 20 bilhões. Não há, portanto, tanta incoerência assim entre os números apontados…     Em segundo lugar, talvez Kanitz não saiba, mas nos últimos anos cresceu como nunca a discussão no meio empresarial sobre o futuro de Pernambuco, a ponto de, numa iniciativa inédita no Brasil, ter sido formulada a AGENDA PRÓ PERNAMBUCO, versão 1994.     De qualquer forma, a provocação de Kanitz deve ser usada para ajudar a acelerar essas discussões e avançar na definição de rumos cada vez mais consistentes para o nosso futuro.     Afinal de contas, como ele próprio enfatizou na conferência, à boa notícia de que o Brasil vai crescer nos próximos 10 anos junta-se a uma má: a concorrência vai estar como nunca. A respeito da economia do Estado acrescentou: em 2005, se as coisas continuarem como estão, os chineses vão acabar com a indústria de Pernambuco. Segundo ele, temos 10 anos para mudar.     

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