Os efeitos psicológicos dacrise e as perspectivas de reversão

 
O ano de 2001 começou como o mais promissor da era do real. A síntese que se convencionou fazer para as previsões para o ano no final de 2000 foi a de que, pela primeira vez em 50 anos, o PIB cresceria mais que a inflação (5% contra 4%).
Todavia, à medida em que o tempo foi passando, essa perspectiva promissora foi se revertendo a ponto de colocar o ano na galeria dos piores da década. José Roberto Mendonça de Barros, um dos economistas mais sensatos de um mercado seriamente inflacionado por palpiteiros de todas as nuances ideológicas, diz em entrevista ao jornal Valor de 15.10.2001:

“Eu não me lembro de um ano em que tivesse mudado tanto a perspectiva.”

José Roberto Mendonça de Barros, economista

Primeiro foi a crise da Argentina que só fez piorar, arrastando-se interminavelmente sem resolução. Depois, a desaceleração da economia norte-americana que aprofundou-se mais do que o esperado. Ambos os fatores, já antevistos nas previsões, tiveram uma contribuição importante para o pressionamento da taxa de câmbio, dada a grande dependência que tem o país de capitais externos (cerca de US$ 25 bilhões para fechar as contas em 2001).
Esses fatores isolados afetariam as perspectivas, mas não a ponto de impactá-las tão seriamente como terminou por acontecer. O que, de fato, contribuiu para a quebra das expectativas foram dois fatores completamente não previstos: a crise de energia e os ataques terrorista nos EUA. A crise de energia, então, contribuiu com um impacto sério no crescimento industrial que vinha puxando, desde o final de 1999, o crescimento do PIB do país.

“O que fez a quebra de tendência não foram preços, renda, foi a mudança de expectativas. Na crise de energia, o que de fato mudou foi a decisão das famílias de reduzir o consumo, aceitando uma queda temporária do padrão de vida.”

José Roberto Mendonça de Barros

No caso dos atentados terroristas, “as famílias e as empresas”, como dizem os economistas, já escaldadas pela crise de energia, reforçaram seus temores e deram uma segunda retranca nas propensões consumistas. Resultado: menos consumo, queda do crescimento industrial, queda da atividade econômica.
Como bem assinala Mendonça de Barros, esses fatores não previstos “têm muito mais uma carga simbólica que efeito econômico”. Esse aspecto, inclusive, facilita a recuperação da economia, no final deste e no início do próximo ano, se os fatores geradores do medo se amenizarem. Ou seja, se a crise de energia for equacionada (vale dizer, se as chuvas ajudarem) e se os efeitos da guerra contra o terrorismo não se ampliarem além do previsto.
Para este final de ano, inclusive, as previsões dos próprios lojistas são bastante positivas. Fala-se, no sul do país, em crescimento da ordem de 12% a 15% sobre as vendas do final do ano passado. O superintendente do shopping West Plaza, em São Paulo, justifica seu otimismo com o seguinte argumento, em matéria do jornal Valor de 14.11.2001:

“Será uma forma de combater o baixo astral que se abateu sobre as pessoas após os atentados nos Estados Unidos.”

Marco Antônio Charro

Seja lá o que for que aconteça, uma coisa é certa: o Brasil sempre andou melhor que as piores expectativas. Nunca, pelo menos na história econômica recente, os piores cenários se confirmaram. O país é maior e mais dinâmico do que supõem os analistas mais céticos (por interesse ou necessidade de serem diferentes).

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