Dos três fatores externos que ameaçam o bom desempenho da economia brasileira em 2001 (preço do petróleo, desaquecimento da economia norte-americana e crise da economia argentina), o que vem preocupando mais no momento é a crise argentina.
Apesar do retorno ao ministério do inventor do regime de câmbio fixo, Domingos Cavallo, suas medidas de impacto não têm sido suficientes para afastar o temor de que o país vizinho seja forçado pelas circunstâncias a desvalorizar o peso e decretar uma moratória dos pagamentos de sua dívida externa.
Mesmo descontando a conveniente histeria do mercado financeiro (afinal, se não houver oscilação de expectativas os especuladores não ganham dinheiro), o fator que está pesando mais na subida recorde do dólar no Brasil nas últimas semanas é, justamente, o receio do “contágio” argentino.
Se o pior cenário se materializar e a Argentina for levada à desvalorização, será inevitável a contaminação, temporária mas preocupante, da economia brasileira.

“…uma moratória seguida de reestruturação da dívida demora algumas semanas, tempo suficiente para o Brasil sofrer contágio e colher um estrago muito mais profundo do que o que está ocorrendo no mercado nos últimos dois meses.”

Claudia Safatle, colunista do jornal Valor, 20.04.2001

A razão pela qual isso se daria é porque, embora os fundamentos da economia brasileira sejam, na atual conjuntura, muitíssimo melhores do que os da argentina, os dois países apareceriam, pelo menos no início, aos olhos do mercado financeiro internacional como se fossem iguais. Até as coisas se esclarecerem, muitos danos já teriam sido causados.
Antes mesmo de alguma coisa pior acontecer, o próprio secretário do Tesouro dos EUA (equivalente ao ministro da Fazenda no Brasil), Paul O’Neill, declarou, sexta-feira, 20.04.2001, à rede TV norte-americana CNBC, “ser um erro acreditar que o Brasil e a Argentina são duas coisas separadas” (Folha de S. Paulo, 21.04.2001).
Como a principal vulnerabilidade da economia brasileira atual é a sua grande dependência de capitais externos para fechamento do balanço de pagamentos (US$ 27 bilhões em 2001), qualquer interrupção, ainda que temporária, do fluxo de recursos (sejam na forma de capital de risco, de empréstimo, de crédito ou de investimento), compromete todo o equilíbrio macroeconômico e põe em risco as metas de inflação e de crescimento do país.
Entendem alguns economistas, como é o caso do ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, que diante da inevitabilidade do contágio, não resta ao Brasil outra saída, para enfrentar a crise de liquidez decorrente, que a preparação de um plano específico para ser aprovado junto ao FMI, aproveitando o bom momento vivido na relação do Brasil com o Fundo, após um programa de ajuda cumprido na íntegra, inclusive, com a antecipação dos pagamentos previstos.
Enquanto aguardamos o desfecho da crise argentina, vamos amargando mais uma subida da taxa interna de juros, segundo o Banco Central, para evitar que a economia aquecida continue ajudando a pressionar o câmbio para cima e, com isso, sancionando um repasse da valorização do dólar para as taxas de inflação. Com o dólar acima de R$ 2,20, as projeções de inflação já estariam em 4,8%.
Vamos aguardar os próximos capítulos para ver o que acontece, torcendo para que as expectativas positivas não tenham que ser revertidas mais uma vez. O país não agüenta falta de crescimento e não suporta mais uma política de vai e vem de expectativas.

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