Rebuliço na internet

O mês de janeiro mal se iniciara e, como se o terceiro milênio estivesse mesmo começando agora e não apenas em 01.01.2001, o mundo da Internet produziu um conjunto de notícias surpreendentes. Pela ordem: (1) o Ministério da Justiça norte-americano conclui preliminarmente (a decisão final da Justiça deve-se dar em fevereiro) que a Microsoft deve desmembrar-se em três companhias diferentes, uma empresa de sistemas operacionais, outra de programas compatíveis e outra de negócios na Internet; (2) a IBM anuncia que passa a usar o LINUX (sistema operacional com código aberto, distribuído gratuitamente pela Internet) em seus PCs; (3) segunda-feira 10.01, a America On-line (AOL), maior provedor de Internet do mundo, anuncia a fusão (a maior da história, embora ainda sujeita à aprovação dos órgãos de controle antimonopólio dos EUA) com a Time Warner, maior conglomerado de entretenimento e comunicações do mundo, criando um negócio estimado em US$ 350 bilhões; (4) no Brasil, na mesma segunda-feira, é lançado o acesso gratuito ilimitado à Internet com o início da operação dos provedores iG e BRfree; (5) Bill Gates, depois de 25 anos no comando, anuncia, na quinta dia 13.01, que está deixando o cargo de CEO (Chief Executive Office) da Microsoft para dedicar-se integralmente à função de “chief software architect”, responsável pelo desenvolvimento de novos produtos, sobretudo os relacionados com a Internet.
Segundo os analistas, o que aconteceu mesmo foi a compra da Time Warner pela AOL, sem que fosse preciso desembolsar um dólar. A operação se resumiu a uma troca de ações: cada uma da Time Warner equivaleu a uma e meia da AOL. Resultado: 55% das ações e o controle da nova companhia (incluindo a presidência para Steve Case) para a AOL e 45% para a Time Warner. Com isso, cria-se uma coisa absolutamente nova: uma empresa que junta provimento de acesso à Internet com provimento de conteúdo e entretenimento, atingindo um universo inicial de 160 milhões de norte-americanos (mais da metade da população dos EUA). É uma proposta ambiciosa que pode ter grande impacto sobre a realidade do mercado.

“É um momento histórico, um momento em que estaremos transformando a paisagem das comunicações.”

Steve Case, presidente da AOL, futuro presidente da AOL Time Warner

A nova companhia já nasce como a quarta no ranking das maiores empresas dos EUA, atrás da Microsoft (valor de mercado de US$ 580 bilhões), da General Eletric (US$ 499 bilhões) e da Sisco System (US$ 360 bilhões). Passa a deter as marcas: Netscape (browser); Time, Fortune e People (revistas); Warner Bros (produtora de filmes); HBO, TNT, Cartoon Network, CNN (canais de TV por assinatura); Warner Music (gravadora). O que é surpreendente é uma empresa jovem, de menos de 15 anos, com faturamento de US$ 4,8 bilhões por ano, praticamente sem ativos físicos, comprar outra de quase 80 anos, com faturamento anual de US$ 26,8 bilhões e indústrias gráficas, estúdios cinematográficos e produtoras de TV. É a nova realidade econômica, impactada pela Internet. É preciso ficar de olho nisso pois muita coisa ainda vai mudar.
Exemplo marcante da mudança é a Internet grátis. Iniciada no Brasil pelo Bradesco, disponibilizando acesso gratuito aos seus clientes no final do ano passado, logo segue-se a mesma iniciativa por parte dos outros bancos. Agora, a coisa muda de figura com a entrada em cena de novos atores. O IG (que quer dizer Internet Grátis) é um empreendimento conjunto do banco Opportunity com a GP Investimentos que pretende ter 500 mil assinantes dentro de seis meses (praticamente atingir a Universo On-line, o provedor líder no país). A idéia é popularizar ao máximo o acesso à Internet, inclusive para quem hoje não é usuário e ganhar dinheiro com publicidade e comissões sobre vendas on-line. Se isso for adiante, estará se desenhando uma outra revolução no setor, com impacto significativo sobre os negócios.
As mudanças são muitas e requerem muita atenção. Não se sabe no que vai dar. Mas que vai ser muito diferente do que é, isso vai.

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