Mais duas tendências

No Conjuntura & Tendências da semana passada foram relacionadas duas das quatro tendências não macroeconômicas de peso, com grande potencial de impacto sobre as empresas no ano que se inicia e nos próximos.
São elas: a Competição, a Internet, a Insegurança e a Responsabilidade Social. Neste número, são comentadas as duas últimas.

I n s e g u r a n ç a

O Brasil é considerado um dos países de pior distribuição de renda do mundo. Muitos organismos internacionais o consideram, inclusive, o país mais injusto do planeta. Sem entrar no mérito dessa discussão, o importante a considerar é o seguinte: os 10% mais ricos da população detêm cerca de 50% da renda nacional, enquanto os 70% mais pobres detêm menos de 30%.
As razões da situação ter chegado a esse nível são várias e não cabe discorrer sobre elas neste espaço, apenas ressaltar que a inflação crônica de duas décadas teve um papel importante no agravamento desse quadro ao dividir a população em duas classes: a que podia indexar a sua renda (via aplicações financeiras) e a que não tinha acesso a banco e, em face das perdas inflacionárias, empobrecia cada vez mais.

De qualquer forma, trata-se de uma situação insustentável do ponto de vista social que se têm agravado todo ano em que o crescimento da economia é menor que 5% (mínimo considerado indispensável para absorver a mão de obra nova que entra no mercado de trabalho). A conseqüência é mais pobreza, mais marginalização, mais violência e, conseqüentemente, menos segurança. Em 2000, infelizmente, a insegurança deve aumentar.

 

R e s p o n s a b i l i d a d e   S o c i a l

Se o governo, quando tinha bem mais poder, não conseguiu dar conta de tornar o nosso país menos injusto, muito menos conseguirá agora, quando vem perdendo capacidade de intervenção com a reforma do estado em curso desde o início dos anos 90 (desrregulamentação, privatização, enxugamento da máquina pública etc).
Não adianta, portanto, esperar que os governos resolvam sozinhos o problema. É absolutamente imprescindível que as empresas e o chamado terceiro setor (a parte da sociedade organizada que não é nem governo nem empresa) entrem para valer nesta batalha de tornar o Brasil um lugar possível de se viver com um mínimo de dignidade e segurança. Caso contrário, corremos o risco de, dentro de um tempo surpreendentemente curto, sofrer os efeitos de um “bug social” (esse sim, o verdadeiro bug do milênio), de conseqüências imprevisíveis.

Afinal de contas, é um absoluto contra-senso trabalhar duramente para ganhar dinheiro e ter que ficar trancado dentro de casa (se fosse possível, dentro do cofre), sem poder andar na rua, para não ser agredido, assaltado, seqüestrado (hoje, qualquer pessoa de classe média pode ser vítima de um seqüestro-relâmpago) ou atingido por uma bala perdida…

Já existe muita gente conscientizada da gravidade da situação e da necessidade de agir, mas ainda é muito pouco face às dimensões do problema. Neste ano que se inicia, cada empresa está desafiada a entrar na luta por um país menos injusto e, portanto, menos inseguro, a partir de suas capacidades objetivas de intervenção, sem falsa filantropia ou obras de fachada, mas com determinação, criatividade e preocupação com resultados concretos. Os próprios clientes, para fazerem suas escolhas, já estão usando (e vão fazer isso de forma cada vez mais intensa), o critério de empresa socialmente responsável. Quem não for, perde capacidade de competir.

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