Um país muito diferente
A crise provocada pelo aumento exponencial da insegurança pela qual estão passando, nos últimos dias, vários estados do país, particularmente algumas capitais e, mais particularmente ainda, a cidade do Recife, é uma evidência muito marcante de que já estamos vivendo num país muito diferente do qual estávamos acostumados. Desde o início da década de 60 que não se via nada sequer parecido. O pânico instalado em todo canto. As lojas sem vender. O aumento dos assaltos. O clima de pré-histéria coletiva. Os arrastões, verdadeiros ou falsos. A onda nervosa dos boatos. A intranqüilidade para gerir os negócios. Uma visão antecipada e inquietante do que seria uma situação de caos social se as mudanças de que o país precisa não forem feitas a tempo. Precisamos de uma economia estável e em crescimento. O suficiente para oferecer os empregos necessários e garantir a arrecadação de impostos que permita ao estado assegurar ao cidadão boa segurança, boa saúde e boa educação. Precisamos desta tranqüilidade social para tocar os negócios, para enfrentar a concorrência, para inventar produtos novos e melhores, para prestar um serviço único aos clientes, para consolidar, desenvolver e fazer crescer a empresa, ajudando, com isso, a estabilização e o crescimento da economia, a oferta de empregos e o pagamento de impostos justos e necessários. Muitas coisas estão sendo feitas para a instalação deste que se poderia chamar circulo virtuoso mas, é forçoso reconhecer, falta muito. A tarefa de reformar um país como o Brasil e transformá-lo em algo muito diferente do que está acostumado a ser é uma tarefa gigantesca, a ser capitaneada por governos conseqüentes mas garantida pelo exercício firme e intransigente da cidadania democrática. Na situação em que o país está (estabilidade econômica e social precária), tanto pode tomar o caminho virtuoso quanto resvalar para a barbárie (as “albânias” estão aí para servir de alerta). Assim como a democracia (destino inescapável de um país tão múltiplo), a estabilidade não está garantida. O que já foi feito nesta direção precisa ser cuidadosamente preservado, o que ainda não foi, terá que ser criteriosamente construído. A responsabilidade daqueles que conduzem as empresas é dupla. Além da gestão eficaz dos negócios, a construção das condições sociais necessárias requer o exercício pleno do poder de influência dos empresários na sociedade em prol das mudanças indispensáveis. Requer uma postura de estadista para dentro e para fora da empresa. Inclusive, para reconhecer que a atual crise da insegurança não é conjuntural. O país diferente e necessário terá que reformular o estado e, dentro dele, o modelo de segurança pública adotado até agora que, simplesmente, faliu. Como, aliás, muita coisa de que não nos damos conta, ainda.
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