Author name: helder

O aperto continua

    Diante dos 3.000 empresários que foram, semana passada, ao Encontro Nacional da Indústria em Brasília, reivindicando mudanças na política econômica, o Presidente Fernando Henrique disse que as coisas vão continuar como estão porque “não há um único indicador preocupante na área macroeconômica”.     O discurso dos responsáveis pela política econômica do governo continua o mesmo: o câmbio continuará valorizado e o juros (“assassinos”) continuarão altos, ainda que em queda lenta, enquanto não for possível lançar a âncora fiscal que depende, por sua vez, das reformas constitucionais.     Por ironia do destino, logo após a entrega da reivindicação formal por maior rapidez nas reformas, feita pelas lideranças empresariais em caravana (vindas do encontro com o Presidente da República), aos Presidentes da Câmara e do Senado, a votação do segundo turno da Reforma da Presidência terminou com três derrotas acachapantes impostas pela oposição e pelos dissidentes da base de apoio ao projeto do governo.     Com isso, amplia-se o pântano das reformas e o tempo vai-se esgotando rapidamente.     Com a popularidade em queda, o presidente precisa desentravar sua estratégia política e romper o círculo de giz das reformas. Precisa, isto sim, ir em frente, com ou sem reformas.     Enquanto isso não acontece, continua a quebradeira desnecessária de empresas.     Não há dúvidas que é inevitável o ajustamento das empresas às novas realidades do mercado globalizado e competitivo mas tudo pode e deve ser feito de modo mais sério e menos dramático.     Destruir capitais e competências empresariais por falta de políticas conseqüentes de desenvolvimento, inclusive regionais, não faz justiça a um governo que foi eleito pela seriedade que inspirava e pelo que acenava de perspectivas de futuro.

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Custo alto e valor baixo

    O nº 58 de Conjuntura & Tendências (04.03.96) analisou o quanto é alto o custo do trabalho no Brasil e a ameaça que isto representa, por um lado, para a competitividade empresarial, e por outro para a estabilidade social, na medida em que afeta o nível de oferta de emprego.     Esta questão tem sido objeto de controvérsias, considerando-se os números em que se baseiam as interpretações. Confrontam-se os dados apresentados pelo professor José Pastore (Folha de São Paulo, 28.02.96) com outros apresentados por Demian Fiocca (Folha de São Paulo, 14.02.96).     No primeiro, evidencia-se um alto custo total do trabalho, representando para as empresas, um acréscimo de 102,06% a mais que o salário direto pago ao empregado, composto pelo pagamento de horas não trabalhadas e encargos sociais e trabalhistas.     No segundo, destaca-se o baixo valor da hora recebida pelo trabalhador.     O que chama a atenção nesses números, são as duas faces de uma mesma realidade, ambas de efeito ruim para as empresas e para os que nelas trabalham.     Por um lado um Custo Alto para o empregador que paga, por imposição de lei, 102,06% sobre o salário direto.     Por outro, um Valor Baixo para o empregado, recebendo salários que não expressam valorização do trabalho, nem da qualidade, nem da produtividade.     O país tem uma realidade institucional que, aparentemente, proteje direitos e dá garantias embora, na prática, produza efeitos contrários.     Neste mix de salários baixos, associados a uma distribuição de renda muito ruim e legislação trabalhista muito pesada em encargos, todos saem perdendo. As empresas e os empregados, diretamente e a sociedade, indiretamente, na medida em que este conjunto contraditório influencia para baixar a oferta de empregos e aumentar os empregos não legalizados, empurrando muitos trabalhadores para a informalidade.     Caminhar para uma legislação mais flexível, com espaço mais amplo para negociação e produção de acordos pode ser um caminho menos tortuoso para produzir uma situação contrária à atual, e mais saudável; MENOR CUSTO de encargos e MAIOR VALOR do trabalho. Ou seja, empresas mais competitivas e empregados mais bem remunerados, com mecanismos que reconheçam, e premiem, os diferenciais de qualidade e produtividade. Š

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Desarmar a "bomba-relógio"

              Um economista do segundo escalão do Banco Mundial, Homi Kharas (Chefe de Operações do BIRD para o Brasil), fez um comentário que caracteriza bem a política econômica em vigor: “Há uma bomba-relógio montada no Brasil. A estratégia de juros altos tem limites que nem os responsáveis pela política monetária conhecem” (Veja, 24.04.96).     De fato, 22 meses depois de lançado e 16 após a posse do seu formulador e condutor, o Plano Real tem como base de sustentação uma mistura explosiva de câmbio engessado e juros altos que tem mantido a inflação baixa à custa de recordes de pedidos de falência e concordatas de empresas e da inadimplência dos consumidores.     Segundo Delfin Netto, “existe uma armadilha cambial que construiu uma restrição externa que impede o crescimento e torna mais difícil o equilbrio orçamentário. Desta forma, fica cada vez mais difícil abandonar a política monetária que se sustenta nos juros elevados e que vai pouco a pouco destruindo as finanças públicas, as finanças das pequenas e médias empresas nacionais e aumentando os riscos do sistema bancário” (Folha de São Paulo, 17.04.96).     A verdade é que a estabilidade de preços tem bases muito frágeis e embora o país não esteja às vésperas de uma crise, chegará inevitavelmente nela se não corrigir a rota e não fizer os necessários ajustes, fiscal e do Estado. Por enquanto, está se endividando e provocando endividamento das empresas, de modo perigoso.     Tentar regular o défict da balança comercial (por conta do câmbio engessado) segurando o crescimento abaixo do que é possível e necessário com juros muito altos, só funciona por tempo limitado por que o juros acabam destruindo a economia pelo aumento da dívida pública (que dobrou nos últimos 12 meses) e pelo estrangulamento do caixa das empresas.     Como não se consegue vislumbrar a mudança deste quadro no curto prazo (pois continua o “imbróglio” das reformas e o presidente declarou recentemente que “a estabilidade será segurada a qualquer custo”), sobra para as empresas a tarefa de continuar pilotando com todo cuidado, inclusive alerta para desarmar, logo, qualquer bomba-relógio de fabricação caseira que aparecer pelo caminho.

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Fazer o que é preciso

    Se a luta contra a inflação ainda não está ganha. Se o câmbio e os juros continuam sendo usados como “antitérmicos” poderosos para manter baixa a “temperatura” inflacionária e anestesiada a economia, enquanto os remédios consequentes não são viabilizados. A estabilização dos preços, portanto, é uma realidade virtual que precisa, cada vez mais fortemente, sair do campo das projeções para o da concretude empresarial.     Se o Governo Federal retarda, hesita ou se equivoca no desarmamento da “bomba-relógio” que montou (tema do próximo “Conjuntura & Tendências”), as empresas não lhe podem seguir o exemplo, mesmo que pareça atraente fazê-lo ou custe muito tomar as duras medidas necessárias.     De fato, conviver com uma realidade econômica mais exigente, competitiva e sem camuflagens, tem sido pesado, custoso e, por vezes, doloroso para todos.     É possível, até, que se pense, na hora de tomar uma medida que seja extrema e necessária: “não sabia que ia ser tão difícil”.     Ter que repensar a viabilidade dos negócios, os custos, a qualidade dos produtos, o tamanho da empresa, a composição das equipes; ter que fazer cortes e mudar, extensa e profundamente o modo de “jogar o jogo”, sem perder a cabeça nem se deixar levar pela afobação, não é nem um pouco fácil.     Só que não há outra alternativa para a sobrevivência e o crescimento. Não dá para voltar atrás e instalar uma “ilha da incompetência” gerencial, cômoda, talvez, mas suicida, voltada só para os resultados de curto prazo e os ilusórios “ganhos” inflacionários.     Enfrentar o desconforto de fazer o que precisa ser feito; adotar as soluções imperativas, mesmo incômodas, com calma mas firmemente; mergulhar fundo nas dificuldades para emergir com mais competência é alternativa mais saudável que se deixar “explodir” por soberba ou hesitação.              

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Sem pressa e sem descanso

        Parece contraditório, em tempos de grandes mudanças na gestão empresarial, quando tanto se fala da urgência e da velocidade das “transformações imprescindíveis”, que se possa defender uma ação sem pressa.     A questão relevante, no entanto, é que a prática tem demonstrado, quase à exaustão, que a pressa pela pressa é desastrosa. É preciso não cair na tentação de sucumbir àquilo que o poeta pernambucano Edson Regis chamou de “a pressa que aniquila o verso.”     Mudar “ligeiro” na direção errada, por impulsividade ou falta de paciência, pode custar muito caro e fazer perder um tempo precioso, além de “alimentar” as reações de defesa contra a mudança necessária. Às vezes, até a ponto de impossibilitá-la, quando, finalmente, começar a ser empreendida em condições adequadas.     O contraponto e o complemento da ação pensada e consciente que seja posta em prática sem pressa é que ela o seja, também, sem descanso.     Ter a dose suficiente de “cabeça fria” para tomar as decisões adequadas e suportáveis em meio à turbulência do ambiente empresarial adverso e para colocá-las em prática, sem atropelos, assim como ter a dose suficiente de “cabeça dura”, mesclada com a capacidade de insistir e persistir na manutenção da rota, sem esmorecimento, são requisitos cada vez mais exigidos da direção das empresas.     Inquietação para buscar alternativas e tranquilidade para pô-las em prática persistentemente: eis a receita difícil e necessária, hoje em dia, para a sobrevivência e o desenvolvimento empresarial.     Afinal, é preciso ter sempre em consideração que a direção que perde a tranquilidade perde, também, a confiança dos liderados. E sem confiança e mobilização, não há futuro empresarial assegurado.     “Sem pressa e sem descanso” pode ser entendido, pela gestão empresarial conseqüente, como a versão poética da expressão formulada pela sabedoria popular e anônima: “devagar e sempre”.

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Construindo a competitividade

    As principais conclusões da Pesquisa Empresas & Empresários – Ano 6 (uma realização da TGI/Jornal do Commercio, com o patrocínio da Celpe e do Sebrae/PE e o apoio do Departamento de Ciências Administrativas da UFPE, do IEL-PE e da AD/DIPER), apresentadas segunda-feira, 15.04.96, ao público presente ao Mar Hotel, foram as seguintes:      Estas conclusões e as opiniões dos entrevistados sobre os passos que devem ser dados a seguir, embasaram a decisão de eleger para o Ano 7 da Pesquisa o tema CONSTRUINDO A COMPETITIVIDADE.     O que e como fazer para atacar o despreparo das empresas para a competitividade, apontado por 75% dos entrevistados no Ano 6? E como acelerar as ações impulsionadoras do desenvolvimento de Pernambuco?     Com estas questões introdutórias inicia-se o Ano 7…

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As empresas estão preparadas?

    Um dos resultados mais expressivos da Pesquisa Empresas & Empresários – Ano 6 (uma realização da TGI/ Jornal do Commercio, com o patrocínio da Celpe e do Sebrae e o apoio do Departamento de Ciências Administrativas da UFPE, do IEL-PE e da AD/DIPER) foi o que apontou que 75% das pessoas entrevistadas responderam que as empresas de Pernambuco estão pouco preparadas (60%) ou totalmente despreparadas (15%) para enfrentar o novo quadro da economia.     Este resultado equivale a responder NÃO à pergunta do título.       As razões apontadas para este despreparo foram: 1.  Apego à filosofia inflacionária; 2.  Baixa capacidade gerencial e pouco profissionalismo; 3.  Dependência da postura governamental; 4.  Falta de planejamento estratégico; 5.  Déficit tecnológico; 6.  Baixa qualificação da mão-de-obra; 7.  Falta de trabalho com o mercado externo; 8.  Falta de visão voltada para a satisfação do cliente; 9.  Individualismo e falta de integração; 10.  Dificuldades com a gestão financeira.     Em relação às empresas consideradas razoavelmente preparadas (12%) e plenamente preparadas (4%) os fatores apontados como determinantes foram: 1.  Capacidade de antecipar-se ao futuro; 2.  Desenvolvimento da capacidade gerencial; 3.  Aperfeiçoamento da qualidade dos produtos e serviços; 4.  Investimento em tecnologia e informatização; 5.  Sintonia com o mercado exterior.

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Integrar para desenvolver

    Os resultados da Pesquisa Empresas & Empresários Ano 6 apontam as potencialidades e oportunidades de Pernambuco, assim como a necessidade premente de integrá-los para fomentar o desenvolvimento estadual.     Sob este ponto de vista, ganha importância capital a integração interna, por intermédio de um eixo estratégico de desenvolvimento, dos pólos extremos de dinamismo (Recife e Zona Norte X Petrolina e Vale do São Francisco).     Para concretização deste eixo, são fundamentais a conclusão do trecho Petrolina- Salgueiro da Ferrovia Transnordestina, a recuperação do trecho Salgueiro-Recife e a implantação da Hidrovia do São Francisco, até Petrolina.      Uma evidência marcante dessa necessidade de integração interna é o fato de Petrolina, hoje, já estar, talvez, mais articulada com outros locais (Salvador, Brasília, São Paulo, EUA) do que com o Recife. Desde o dia 18.03.96, por exemplo, a TAM implantou um vôo diário, ida e volta, para São Paulo, aeroporto de Congonhas.     Não basta desenvolver os pólos, é necessário integrá-los e, com isso, fomentar o desenvolvimento dos espaços intermediários (como desenvolver o Sertão e o Agreste?).     A questão da integração intra-estadual de Pernambuco é condição necessária para sua indispensável e urgente integração externa (regional, nacional e internacional), sem a qual fica muito difícil progredir no mundo atual.

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Visão estratégica de Pernambuco

    Um dos produtos da Pesquisa Empresas & Empresários 96, realizada anualmente pela TGI com a promoção do Jornal do Commercio, que conta, neste ano 6, com o apoio do Departamento de Ciências Administrativas da UFPE, do IEL e da AD-DIPER e com o patrocínio da CELPE e do SEBRAE-PE, é uma visão estratégica de Pernambuco.      Esta visão foi construída a partir das contribuições recolhidas em mais de 200 entrevistas individuais e diversos encontros de discussão e junto com os resultados finais da pesquisa esse ano será apresentada e discutida no dia 15.04.96 (segunda-feira), às 19 horas, no Mar Hotel, na Barão de Souza Leão, Boa Viagem.

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Mobilização em outro nível

    O Governo Fernando Henrique não tem uma estratégia consequente para o Nordeste.     Às voltas com a estabilização da economia e com as reformas constitucionais, não formulou nem colocou em prática nenhuma ação ordenada capaz de fazer frente ao esgotamento do modelo de desenvolvimento da região.     Mesmo a atuação rigorosa da Sudene em relação à administração dos incentivos fiscais é obra que vem do Governo Itamar.     Por esta razão, é muito bem vinda a iniciativa da bancada de senadores do Nordeste de elaborar e submeter ao governo uma proposta de tratamento da questão da inserção competitiva e do desenvolvimento da região no novo quadro da globalização da economia do país.     O documento acertado no diagnóstico, esboça razoavelmente as prioridades e é confuso nas proposições institucionais. Entretanto, está tendo o grande mérito de recolocar a questão, a partir de uma nova ética, diretamente à consideração do Presidente.     O fato é que, sem uma ação coordenadora, firme e consequente do Governo Federal, a questão do desenvolvimento do Nordeste vai ficar restrita à disputa fraticida dos estados pela refinaria e pelas minguadas verbas do orçamento.     O problema sério a enfrentar é da política de desenvolvimento. A participação do PIB do Nordeste no produto do país vem caindo nos últimos anos (de 18,5% em 1990 para 17,5% em 94, de acordo com a Sudene). Segundo cálculos da economista e ex-diretora de Planejamento Global da Sudene, Tânia Bacelar, a participação da região na Renúncia Fiscal da União (para desenvolvimento regional e estímulo às exportações) é de apenas 10% (bem menor do que a participação no PIB), contra 45% da Sudene e 38% do Norte.     Seja de que forma for que o debate se encaminha, é preciso considerar que a situação, hoje, é muito diferente da do passado, mesmo recente.     Assim como em relação às empresas, a questão do desenvolvimento do Nordeste deve ser colocada em termos de potencialidades e deficiências para atendimento das exigências dos mercados (regional, nacional e internacional) e de vantagens e desvantagens competitivas. Não em termos de ajuda a uma região desvalida ou de subsídios para uma região “carente.” A conversa tem que ser em outro nível. O mundo atual exige que seja assim.

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