Para que falar do óbvio?
Muitas vezes, ao se discutir um determinado assunto polêmico ou conflitivo, ouve-se alguém dizer: “não preciso falar disso porque é o óbvio”. Falar do óbvio acrescenta algo? Vale a pena? Ou é desperdiçar palavras, chover no molhado, ou perder um tempo que nada acrescenta na resolução dos problemas? A defesa do óbvio, que não é tão fácil de convencer, merece um desvio para uma estorinha. Aí está um exemplo do para que serve falar do óbvio: para fazer ver o já conhecido com outro olhar; chamar a atenção para aquilo que, por demais conhecido, tornou-se invisível; “dar um close” naquilo que “desaparecera” no cenário. O efeito é paradoxal: o óbvio só se torna óbvio quando é dito. Antes, era aquilo que se olha sem ver ou ouve-se como um ruído de fundo, sem escutar de fato. Falar do óbvio faz aparecer o que precisa ser dito para que se possa ver o que já se sabe sob outra ótica e, aí, permite surgir o que há de novo naquilo que parece conhecido. No dia-a-dia das empresas, não vale a pena descuidar do óbvio: um dirigente com seus auxiliares, uma gerente com sua equipe ou uma equipe discutindo seus desafios, todos precisam falar do óbvio, de todos os óbvios sobre os quais “todos já sabem.” Um elogio de reconhecimento para alguém que sempre trabalha bem; a análise de um modo de fazer determinada coisa já estabelecida como certa; a rediscussão de uma situação já analisada; o esforço de repensar, para aperfeiçoar algo antes que comece a dar problemas, são exemplos de situações onde o óbvio costuma surgir, e deve ser explorado. Nas empresas, como na vida de um modo geral, falar do óbvio, no fim das contas, é uma possibilidade de criar o novo com o que já se sabe, de inventar a partir da experiência, de fazer mudanças sem perder as referências do que já é conhecido.
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