Sociedade

Problemas em oportunidades

     O estrategista francês Michel Godet, em seu livro “Prospective et Planification Stratégique” (Editora Economica, 1985, Paris), chama a atenção para o fato de que no idioma chinês a palavra crise é constituída de dois ideogramas: um significando perigo o outro oportunidade.           Este fato, de conhecimento milenar, é de grande importância na orientação do funcionamento cotidiano das empresas e organizações de um modo geral, nessa época de crise competitiva onde estão em jogo a sobrevivência e o crescimento.      É possível entender que se problemas são, por um lado, inevitáveis e próprios da natureza humana pois se originam dos conflitos, contradições e diferenças que constituem a singularidade das pessoas e das organizações no ambiente de trabalho e concorrencial; são, por outro lado, essenciais como indicadores de direção das mudanças necessárias.      Um caso que já pode ser considerado clássico, no ambiente empresarial brasileiro, de transformação de um problema em oportunidade, é o da cerveja Kaiser.                                    Esse, como outros, é um exemplo de que há, em toda crise, em todo problema, uma dimensão produtora de mudanças para ser aproveitada. É uma vertente que, quando não dramatizada, transforma-se em oportunidade de sair da dificuldade e avançar.      Na prática do planejamento estratégico uma pergunta é obrigatória: como transformar esse (qualquer) problema em oportunidade?

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Internalizar o atendimento

        Na relação com o cliente, a Qualidade do produto, o Atendimento dispensado e o Preço cobrado, são considerados fatores de diferencial competitivo junto à concorrência.     Pode-se dizer que Qualidade, Atendimento e Preço são, portanto, as variáveis-chave da equação que o cliente arma na cabeça quando está decidindo se compra ou não um determinado produto ou serviço. Dá, até, para forçar um raciocínio matemático e expressar a decisão de compra como sendo f(q,a,p).     Acontece que, com a disseminação da preocupação com a qualidade e com os custos dos produtos (para fazer frente à concorrência externa), tudo indica que haverá uma tendência ao nivelamento desses fatores no mercado. Isso quer dizer que tanto a Qualidade quanto o Preço de produtos concorrentes tenderão a ficar parecidos.     Neste cenário de tendência à indiferenciação da Qualidade e do Preço, a variável Atendimento ganha uma importância competitiva relevante. Tenderá, portanto, a levar vantagem competitiva a empresa que conseguir atender melhor.     E não se consegue atender bem o cliente se a prática do atendimento não for internalizada na empresa.            De fato, para atender bem “para fora”, é indispensável atender bem “para dentro”. Isso quer dizer que o conceito de cliente também deve ser adotado nas relações internas. Cada unidade deve considerar a outra unidade interna, da qual é fornecedora, como sua cliente e atendê-la como se estivesse atendendo o cliente externo.     É claro que isto não é uma coisa fácil de fazer. Requer uma definição tão clara quanto possível de quais são: os processos internos relevantes; as atividades internas que, de fato, agregam valor ao produto final; e as unidades que devem e as que não devem mais existir.     Numa empresa que se pretenda competitiva, nenhuma unidade interna pode ser uma ilha. Só tem razão de existir se for para atender, direta ou indiretamente, a necessidade dos clientes externos.     Esse conceito vital, embora pareça simples, requer, para sua implantação, uma ação de gestão persistente porque, ainda que seja uma excelente âncora da competitividade, enfrenta muitas resistências culturais para se instalar.  

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Agilidade para sobreviver

                              A estória foi contada para ilustrar com humor o grande desafio que as empresas enfrentam de forma cada vez mais evidente:serem mais rápidas e criativas que os concorrentes para sobreviver na selva do mercado.      Essa talvez seja a constatação mais difícil para muitas empresas que pensavam estar passeando num bosque sem perigos: as feras da concorrência estão soltas. E como tem bicho de todo tipo, o perigo não vem só dos grandes. Os pequenos podem, de repente, se mostrar capazes de provocar grandes estragos também.      Saber onde está pisando, locomover-se com cuidado, não desperdiçar desnecessariamente esforços (nem recursos) e ter agilidade e reservas de energia, tanto para aproximar-se logo das oportunidades, quanto para distanciar-se rápido dos perigos, são condições cada vez mais necessárias para a sobrevivência empresarial, hoje em dia.

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Para que falar do óbvio?

     Muitas vezes, ao se discutir um determinado assunto polêmico ou conflitivo, ouve-se alguém dizer: “não preciso falar disso porque é o óbvio”.      Falar do óbvio acrescenta algo? Vale a pena? Ou é desperdiçar palavras, chover no molhado, ou perder um tempo que nada acrescenta na resolução dos problemas?      A defesa do óbvio, que não é tão fácil de convencer, merece um desvio para uma estorinha.      Aí está um exemplo do para que serve falar do óbvio: para fazer ver o já conhecido com outro olhar; chamar a atenção para aquilo que, por demais conhecido, tornou-se invisível; “dar um close” naquilo que “desaparecera” no cenário.      O efeito é paradoxal: o óbvio só se torna óbvio quando é dito. Antes, era aquilo que se olha sem ver ou ouve-se como um ruído de fundo, sem escutar de fato.      Falar do óbvio faz aparecer o que precisa ser dito para que se possa ver o que já se sabe sob outra ótica e, aí, permite surgir o que há de novo naquilo que parece conhecido.     No dia-a-dia das empresas, não vale a pena descuidar do óbvio: um dirigente com seus auxiliares, uma gerente com sua equipe ou uma equipe discutindo seus desafios, todos precisam falar do óbvio, de todos os óbvios sobre os quais “todos já sabem.”      Um elogio de reconhecimento para alguém que sempre trabalha bem; a análise de um modo de fazer determinada coisa já estabelecida como certa; a rediscussão de uma situação já analisada; o esforço de repensar, para aperfeiçoar algo antes que comece a dar problemas, são exemplos de situações onde o óbvio costuma surgir, e deve ser explorado.      Nas empresas, como na vida de um modo geral, falar do óbvio, no fim das contas, é uma possibilidade de criar o novo com o que já se sabe, de inventar a partir da experiência, de fazer mudanças sem perder as referências do que já é conhecido.

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Querer ser o que não pode

    Tem-se falado muito sobre a “passividade”, a “falta de agressividade”, a “timidez”, a “falta de grito”, dos pernambucanos na briga por verbas, tratamento privilegiado, captação de investimentos, refinaria, montadora etc, etc.      E, nesses comentários, é inevitável a comparação com os baianos e com os cearenses que seriam, por suposto, mais “agressivos” quando tratam dos interesses dos seus estados. Sobretudo os baianos que não hesitam em tentar “ganhar no grito”, sempre.      Se, por um lado, é evidente que esse assunto não se esgota em comentários simplistas e envolve uma vastíssima discussão psicossocial-antropológica do tipo: “por que os pernambucanos são o que são?”; por outro, como tentativa de contribuição ao debate, cabem algumas considerações sobre fatos recentes.      Com o fracasso da reforma da previdência, o governo federal parece que resolveu mudar de estratégia e partir logo para promover um corte brutal no Orçamento da União, prejudicando, com isso, principalmente, o Nordeste e, em particular, Pernambuco.      Em meio às articulações que se seguiram, a Folha de São Paulo publicou, em 15.06.96, o comentário reproduzido a seguir.      Independente do mérito da questão ou dos resultados práticos dessa ação específica, é interessante notar a visão “externa” sobre os pernambucanos, comparados aos mineiros. O comentário coincide com a publicação de uma vasta reportagem, na Revista ISTOÉ de 12.06.96, sobre Minas Gerais, considerada a “Trilha do Capital.”      Sobre o assunto, algumas questões podem ser formuladas: vale a pena tentar ser o que não se pode para conseguir os mesmos supostos “resultados” que outros “atingem” porque são o que são? Não seria mais adequado, do ponto de vista de marketing, procurar transformar em vantagens competitivas as características próprias, transformando-as em referências de identificação positiva?      São questões estimuladoras de um bom debate. Existe uma música que diz: “Pernambuco tem uma dança que nenhuma terra tem”. Não parece mau, também, ter um jeito de lidar com o desenvolvimento que seja eficaz, justamente porque é o “jeito que nenhuma terra tem”, ainda que, com certeza, menos frenético que a dança.      O sucesso já foi definido como sendo: “conseguir mercado para aquilo que se gosta de fazer.” Talvez o segredo do desenvolvimento consista, justamente, em gosta de ser de Pernambuco.

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Acordo sim, consenso nunca

        Há um mito infelizmente bastante disseminado, tanto na realidade empresarial quanto na vida pública, de que é fundamental perseguir o consenso.     Quer dizer, cada um deve ser convencido, aceitar e concordar com a decisão para que ela tenha “legitimidade.”       Acontece que o consenso, na nossa realidade cultural, é impossível. Portanto, procurá-lo é perda de tempo e encontrá-lo é, quando muito, uma ilusão apenas passageira.      A busca do consenso na realidade empresarial pretende esquecer o conflito ao mesmo tempo em que superestima a cooperação.      É importante considerar que as empresas são um espaço privilegiado de exercício do jogo da cooperação e do conflito.      Cooperação para somar competências complementares (de pessoas, grupos, unidades administrativas, níveis hierárquicos) e viabilizar os objetivos empresariais.      Conflito decorrente das diferenças (de interesses, valores, estilos de gestão, percepções, maneiras de fazer e de pensar), existentes entre pessoas, grupos, unidades administrativas, níveis hierárquicos…      O conflito é condição inerente da vida humana e é inevitável de acontecer sempre que duas ou mais partes interagem.         Já que não pode ser evitado, o conflito e sua resolução podem e devem ser colocados a serviço do aperfeiçoamento empresarial.         Das várias abordagens para enfrentamento de conflitos, aquela que considera a negociação e o estabelecimento de acordos é a mais produtiva.     Através dela, as partes envolvidas potencializam sua energia e criatividade, focam sua atenção na análise do problema, explicitam suas diferenças e semelhanças, desenham alternativas de solução e, finalmente, estabelecem acordos que vão significar compromissos consistentes e duradouros.        Na busca do acordo, trabalha-se com o que é possível. Na perseguição do consenso busca-se o ideal, o sonho de harmonia que nada tem a ver com a realidade, sobretudo a realidade empresarial.     Superar a ilusão de soluções de consenso e, no outro extremo, a tentação de práticas autoritárias ou de evitação de conflitos é uma exigência da competitividade.         Entre demorar, em excesso, procurando o consenso impossível e ser rápido demais em decisões autoritárias que não se efetivarão, há o espaço possível da construção de acordos que permitam avançar.

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Custo alto e valor baixo

    O nº 58 de Conjuntura & Tendências (04.03.96) analisou o quanto é alto o custo do trabalho no Brasil e a ameaça que isto representa, por um lado, para a competitividade empresarial, e por outro para a estabilidade social, na medida em que afeta o nível de oferta de emprego.     Esta questão tem sido objeto de controvérsias, considerando-se os números em que se baseiam as interpretações. Confrontam-se os dados apresentados pelo professor José Pastore (Folha de São Paulo, 28.02.96) com outros apresentados por Demian Fiocca (Folha de São Paulo, 14.02.96).     No primeiro, evidencia-se um alto custo total do trabalho, representando para as empresas, um acréscimo de 102,06% a mais que o salário direto pago ao empregado, composto pelo pagamento de horas não trabalhadas e encargos sociais e trabalhistas.     No segundo, destaca-se o baixo valor da hora recebida pelo trabalhador.     O que chama a atenção nesses números, são as duas faces de uma mesma realidade, ambas de efeito ruim para as empresas e para os que nelas trabalham.     Por um lado um Custo Alto para o empregador que paga, por imposição de lei, 102,06% sobre o salário direto.     Por outro, um Valor Baixo para o empregado, recebendo salários que não expressam valorização do trabalho, nem da qualidade, nem da produtividade.     O país tem uma realidade institucional que, aparentemente, proteje direitos e dá garantias embora, na prática, produza efeitos contrários.     Neste mix de salários baixos, associados a uma distribuição de renda muito ruim e legislação trabalhista muito pesada em encargos, todos saem perdendo. As empresas e os empregados, diretamente e a sociedade, indiretamente, na medida em que este conjunto contraditório influencia para baixar a oferta de empregos e aumentar os empregos não legalizados, empurrando muitos trabalhadores para a informalidade.     Caminhar para uma legislação mais flexível, com espaço mais amplo para negociação e produção de acordos pode ser um caminho menos tortuoso para produzir uma situação contrária à atual, e mais saudável; MENOR CUSTO de encargos e MAIOR VALOR do trabalho. Ou seja, empresas mais competitivas e empregados mais bem remunerados, com mecanismos que reconheçam, e premiem, os diferenciais de qualidade e produtividade. Š

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O que quer o turista?

    A “indústria” do turismo, segundo estimativa do WTTC (World Travel and Tourism Council) (Folha de São Paulo, 18.02.96), gerou em 95 US$ 3,4 trilhões no mundo e US$ 70,9 bilhões no Mercosul (2,1% da geração mundial).     As previsões são de que em 10 anos o crescimento desta indústria seja da ordem de 6% ao ano, o que fará o volume de negócio do Mercosul mais do que duplicar (US$ 150,4% bilhões em 2005).     No Brasil, ingressou em 95 um total de 1,8 milhão de turistas, dos quais 57% provenientes do Mercosul. Esse volume pode ser considerado ridículo se comparado com a França (65 milhões), a Espanha (63 milhões), os EUA (45 milhões) ou, mesmo, o México (17 milhões), a Argentina (3,9 milhões) e o pequeno Uruguai (2,2 milhões).     Uma pesquisa da Embratur sobre o que os turistas estrangeiros consideram positivo ou negativo no país (Veja, 28.02.96) traz conclusões interessantes:     Se as demandas por limpeza, táxi e segurança são compreensíveis por si mesmas, a primeira (informações!) induz a reflexões e faz pensar na questão do Estado com negócio.     Todas as avaliações das potencialidades de Pernambuco são unânimes em apontar o turismo como uma das principais, senão a principal delas.     O que fazer, então, para ampliar a atratividade do “produto” Pernambuco para os turistas?     O “trade”, a Prefeitura do Recife e o Governo do Estado têm se esforçado para trabalhar nessa direção. No entanto, parece faltar um “algo mais”, que vá além da ação dos agentes diretamente envolvidos.     Ainda não alcançamos o que seria uma espécie de “predisposição cultural” de anfritiões, que recebem bem porque conhecem e gostam do lugar onde vivem. Ao contrário, até, muitas vezes parece que nós, pernambucanos, não acreditamos que somos um produto turístico atraente.     Que somos um estado com história e cultura vastas e suficientemente “dramáticas” para atrair os de fora. Que temos uma capital agradavelmente cosmopolita, com a melhor praia urbana do Brasil, sem os incovenientes do gigantismo do Rio, São Paulo ou Salvador. Que temos um “binário”metropolitano (Recife-Olinda) de grande beleza paisagística, unido por um Centro de Convenções dos mais modernos do país. Que temos um litoral de belas praias que apaixonam quem chega a conhecê-las. Que temos cidades serranas extremamente agradáveis, de clima especial. Que temos, enfim, muitas coisas que nos fazem, de fato, diferentes e atraentes.     O turista, pedindo informação, pede para saber, para conhecer, para ser convencido. Mas, sabemos, só convence os outros quem está convencido por si mesmo.     Não podemos esperar um novo “descobridor”! Precisamos afirmar e mostrar o que somos, e o quanto somos! Não merecemos ser, por nós mesmos, comparados, timidamente e em inferioridade, com os vizinhos!     O sentimento de pernambucanidade, que a Pesquisa Empresas & Empresários já apontou como precisando ser reforçado, se concretiza, também, na capacidade de ter uma auto imagem positiva e saber-se “atraente” para o turista, na confiança do próprio valor, no saber mostrar-se para ser visto, em poder reconhecer-se para ser reconhecido. Š

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Recife: a cidade como negócio

    A globalização da economia, a reestruturação produtiva e o desenvolvimento tecnológico, especialmente das comunicações e dos transportes, têm produzido mudanças importantes nas cidades.     É cada vez mais forte a convicção de que, neste novo contexto, as cidades e não as regiões, terão papel importante como protagonistas do desenvolvimento econômico. Não há dúvidas de que as que estiverem melhor situadas, geográfica e culturalmente, sairão na frente.     Alguns requisitos aparecem como fundamentais quando se pretende fortalecer uma determinada cidade como para o futuro:     De acordo com esta concepção, é preciso tratar estrategicamente o espaço urbano de modo a transformar a própria cidade, ela mesma, num bom negócio. Barcelona compreendeu isso muito bem e executou um dos mais bem sucedidos planos de marketing urbano de que se tem notícia. No Brasil, Curitiba é o mais acabado exemplo de como vender bem o “negócio cidade”.     Recife não deve perder tempo, nessa nova ordem urbana sob o risco de perder também competitividade. A cidade tem vantagens comparativas que lhe permitem resgatar sua vocação de importante Centro de Comércio e Serviços.     O Recife tem recursos urbanos naturais e construídos (muito mais do que Curitiba, Belo Horizonte ou Fortaleza, por exemplo), além de competência humana de sobra, para moldar satisfatoriamente o seu projeto próprio de cidade e fazer disso um excelente negócio.     Além do Recife, Pernambuco ainda conta com outro centro dinâmico de inserção regional e internacional que é Petrolina e sua área de influência. Mas, isso já é assunto para outro Conjuntura & Tendências… Š

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